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Crítica | The Last Days of American Crime é interessante, mas longo demais

Por| 09 de Junho de 2020 às 08h25

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A Netflix vem investindo bastante em subgêneros de adaptações de quadrinhos, aproveitando propriedades que obtiveram sucesso fora das grandes editoras de super-heróis para investir em algo que está quase “pronto”. Foi assim com Umbrella Academy e Extraction, e agora segue com Old Guard, que chega à plataforma no mês que vem; e com The Last Day of American Crime, que estreou na sexta-feira (5).

The Last Day of American Crime foi lançado originalmente em dezembro de 2009, com roteiro de Rick Remender e os belíssimos desenhos do brasileiro Greg Tocchini. Em um futuro próximo, os Estados Unidos decidem impor um novo programa de “pacificação” que envolve o monitoramento da população, com a implantação de um chip atrás da orelha. Quem andar fora da linha recebe uma carga de um sinal emitido por torres. Isso é o suficiente para deixar qualquer marmanjo fora de ação por vários minutos.

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Além disso, os estadunidenses vivem um momento de incerteza e transição, com o fim das cédulas como dinheiro. Com todas as transações no mundo digital, as autoridades acreditam ser mais fácil identificar e prender criminosos. É nesse cenário que encontramos Graham Bricke (Edgar Ramirez), um cara durão e misterioso que mora e cuida de sua mãe, uma idosa com Alzheimer. Ele aproveita a situação para orquestrar o último grande assalto de banco da história dos Estados Unidos.

A história foi um sucesso, por traçar uma trama redondinha, dirigida pela riqueza de seus personagens e pela ambientação neo-noir e distópica, com alguns pequenos elementos de ficção científica. Remender mostra que o contato de sua proposta com nossa realidade é bastante cru e violento; projeta dias sombrios sob autoritarismo e monitoramento com uso da tecnologia. E isso tudo é magistralmente contado pela narrativa gráfica de Tocchini, que abusa das pin-ups da femme fatale Shelby Dupree (Anna Brewster)

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A adaptação da Netflix segue basicamente tudo isso, mas substitui a mãe de Bricke por seu irmão na trama. E, embora tente encontrar os mesmos elementos de sucesso da revista, perde-se um pouco com três atos bem demarcados, mas com um timing arrastado e duração longa demais. Bem, vamos aos destaques da produção

Atenção, daqui para frente há pequenos spoilers sobre Last Day of American Crime

Ambientação se perde

Uma das características básicas das histórias em quadrinhos é a habilidade de juntar vários gêneros sem soar estranho. Então, a homenagem noir e à contracultura, com personagens típicos da literatura pulp; e inspiração cyberpunk, com um mundo corrupto no futuro, funcionam juntos na edição impressa. Remender costura bem esses elementos por meio de seus protagonistas. O filme tenta inicialmente fazer o mesmo.

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Edgar Ramirez é bastante convincente como Bricke e Anna Brewster também vai muito bem como a sedutora e manipuladora Shelby Dupree. Ambos fazem um jogo de gato e rato durante toda a projeção e, inicialmente, isso é divertido. Contudo, ao longo de todas as 2h30 de projeção, começa a ficar repetitivo e tórrido.

A presença do Kevin Cash de Michael Pitt até promete deixar as coisas mais divertidas. O marido de Shelby é naturalmente agitado e curioso, mas Pitt, que há anos tenta se desvencilhar de papéis menores de bom moço com interpretações de bandidinhos questionáveis, repete essa fórmula de pouco sucesso. Ele destoa um pouco da dupla anterior, com um comportamento bastante caricato e até duvidoso no final.

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Ainda assim, como a história é centrada nos personagens, a coisa toda fica mais interessante quando examinamos mais a fundo o background de cada peça desse trio.

Lento no começo e longo demais

O filme começa com explosões e parece que será uma escalada de ação, mas aí o primeiro ato inteiro é basicamente o estabelecimento desse cenário deprê neo-noir com as motivações de cada personagem. O romance acaba sendo o fio condutor e as coisas até ficam mais divertidas com o início da segunda parte da trama, com um plot twist envolvendo Cash.

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Só que, nesse momento, a trama começa a explicar demais e se perde um pouco em seus temas. Há um subtexto na HQ sobre o uso de substâncias e projetos secretos dos Estados Unidos, que usam cobaias humanas para experimentar armas e o que mais der na telha das autoridades. E isso não cai muito bem no personagem interpretado por Sharlto Copley, que acaba sendo subutilizado em uma linha de narrativa que basicamente fica sem conclusão.

Quando o terceiro ato começa, a partir da correria em torno do assalto, o filme até engrena e mostra boas sequências de invasão de um legítimo título de ação. Mas até chegar aí, as idas e vindas da história cansam um pouco. As cenas de luta, por exemplo, parecem mal coreografadas e às vezes até meio atrapalhadas.

Vale a pena?

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Nem todo mundo tem paciência de ver o romance tórrido de Ramirez e Anna, ainda mais com a atuação exaustiva de Pitt ao longo de 2h30. E esse é justamente o maior problema por aqui. Se tivesse uns 30 (ou mais) minutos a menos e melhor edição, sem querer se aprofundar demais e vários temas simultaneamente, talvez The Last Day of American Crime obtivesse mais sucesso.

A parte técnica, contudo, não deixa a desejar e, no final, pode até ser uma sessão divertida caso você goste desse tipo de história e se dedique a curtir esses personagens. Mas não acredito que se torne o filme favorito de muita gente. Na melhor das hipóteses, talvez leve os fãs para o material original, que é superior.