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Crítica | Meu Amor mostra contos de fadas em todas suas formas, cores e traços

Por| Editado por Jones Oliveira | 06 de Maio de 2021 às 21h00

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Quando Meu Amor: Seis Histórias de Amor Verdadeiro foi anunciado pela Netflix, a comparação com a série original da Amazon Modern Love foi praticamente inevitável. Esta última, cuja primeira temporada chegou ao catálogo em 2019 e conquistou os assinantes, adaptou histórias publicadas na coluna que dá o nome à série no renomado jornal The New York Times, porém utilizando grandes nomes de Hollywood para viver os personagens na antologia romântica.

Em Meu Amor, não é bem assim. A comparação com a série da Amazon pode até soar injusta, mas não de um jeito ruim, e sim porque se tratam de propostas muito diferentes uma da outra; o que as torna válidas de serem assistidas e acompanhadas e, acima de tudo, absorver a mensagem que trazem: celebrar o amor.

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Atenção! A partir daqui o texto pode conter spoilers. Leia por sua conta e risco.

É equivocado considerar Meu Amor uma série. A produção é, na realidade, uma coletânea de seis documentários que podem muito bem serem assistidos diariamente como os longas-metragens que são, e não episódios a serem maratonados. Esse movimento pode, inclusive, dar um outro tom à experiência de assistir ao título Netflix, justamente para permitir ao espectador uma maior absorção e imersão do que cada um dos cineastas presentes no projeto quis compartilhar com o público.

A ideia vem do diretor coreano Jin Moyoung, do premiado documentário de 2013, My Love, Don't Cross That River, que acompanha um casal de idosos até os últimos momentos de seus 76 anos juntos. Com isso em mente, Meu Amor pode muito bem funcionar como uma continuação desse projeto, já que os seis filmes seguem casais de diferentes países que possuem apenas uma coisa em comum: 40 anos de casados e uma vida inteira compartilhada.

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O interessante aqui é que Moyoung, por mais que idealize a série, dirige apenas um dos episódios — o sul-coreano, acompanhando o casal Saengja e Yeongsam. A escolha de trazer outros cinco cineastas de diferentes nacionalidades para comandar o episódio de seu país permitiu ao documentário uma variedade de óticas, além de deixar nas mãos dos diretores a escolha de quais elementos culturais inserir em seus episódios.

Respectivamente, Elaine McMillion Sheldon (Estados Unidos), Chico Pereira (Espanha), Hikaru Toda (Japão), Carolina Sá (Brasil) e Fahad Mustafa (Índia) trazem à obra um olhar mais íntimo e de grande peso local para os 60 minutos de cada um: sejam identificados em costumes, vestimentas, condições econômicas ou até mesmo a demonstração de afeto entre os casais, que claramente mudam conforme o país em que o episódio é ambientado.

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Meu Amor, embora traga uma impressão romântica em seu título, procura ir além na sua narrativa, abordando o presente e o planejamento para o futuro desses seis diferentes casais. Os episódios não se resumem apenas a trocar juras de amor, declarações românticas e demonstrações em presentes, e sim explorar que a presença desse sentimento tão puro do ser humano é capaz de ser traduzido em ações que o público dificilmente encontra assistindo a contos de fadas ou filmes de comédia romântica.

A experiência é imersiva logo em seu início, que não se preocupa em apresentar as pessoas na tela como personagens de um filme infantil, mas simplesmente "pegar o bonde andando", inserindo o espectador diretamente na rotina do casal independente dos programas e afazeres que aqueles têm no dia. Essa escolha dos diretores, independente do episódio, é capaz de mostrar ao público que embora haja, sim, muitos momentos felizes que compõem os 40 anos de matrimônio de um casal, há também difíceis e inevitáveis escolhas e decisões que devem ser tomadas ao ver a velhice se aproximando e tornando-se presente na vida: com consultas frequentes no médico, o auxílio e dificuldade em realizar simples tarefas do dia-a-dia ou, em um deles, em elaborar e planejar o próprio testamento.

É também de se notar o cuidado para escolher os casais que estrelaram os episódios ao longo dos 12 meses de 2019. Em Modern Love, por exemplo, apesar de apresentar certa diversidade em seu elenco e histórias, era nítido que os atores Hollywoodianos seguiriam um certo padrão de corpo, beleza e visual. Em Meu Amor, por se tratar não só de uma série documental, mas imersiva, ainda quebra esse paradigma estereotipado imposto pela indústria da beleza e mostra a velhice em sua forma mais natural e genuína, pouco importando-se com os julgamentos alheios.

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Meu Amor ainda vai muito além na representatividade, mesmo que já ofereça documentários locais com diretores das nacionalidades correspondentes. Quem dá vida ao episódio brasileiro é Nicinha e Jurema, duas mulheres negras, lésbicas e praticantes da Umbanda que estão casadas há 43 anos. Juntas, elas criam uma grande família na Favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro, abordando na frente das câmeras questões como a falta de água em casa, a utilização do Sistema Único de Saúde (SUS) e, é claro, o preconceito vivido por conta da sexualidade e religião de ambas.

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Íntimo e tranquilo; imersivo e delicado, Meu Amor é uma indicação para corações desesperançosos e curiosos por outras culturas. A série de documentários está disponível na Netflix.