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Crítica De Volta ao Espaço | A celebração do programa espacial dos EUA

Por| Editado por Jones Oliveira | 15 de Junho de 2022 às 19h35

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“A Terra é o berço da humanidade e você não pode ficar no berço para sempre; é hora de ir além”. Essa frase é parte do início do documentário da NetflixDe Volta ao Espaço, que celebra a retomada dos voos espaciais tripulados lançados dos Estados Unidos com foguetes e cápsulas estadunidenses — e, claro, destaca também como a SpaceX, empresa fundada por Elon Musk, mudou o jogo da NASA enquanto tenta avançar planos ambiciosos de, um dia, colonizar Marte.

Antes, voltemos alguns anos no passado — mais precisamente, para 21 de julho de 2011. Naquele dia, o ônibus espacial Atlantis retornou do espaço, encerrando um programa marcado por duas tragédias e altíssimos custos para a NASA. Na falta dos space shuttle, pagar bilhões de dólares por assentos a bordo de naves Soyuz, da Rússia, foi o único caminho para a NASA levar seus astronautas à Estação Espacial Internacional (ISS).

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Esse cenário começou a mudar com o Commercial Crew Program, iniciativa através da qual a NASA fecha parcerias com empresas privadas para o transporte de astronautas à ISS. Em 2020, os astronautas Doug Hurley e Bob Behnken foram ao laboratório orbital a bordo de uma cápsula Crew Dragon instalada em um foguete Falcon 9, ambos da SpaceX.

Eles viajaram durante a missão de demonstração Demo-2, o primeiro lançamento tripulado dos Estados Unidos desde 2011. Dali em diante, a agência espacial não precisou mais depender da Rússia para seus lançamentos tripulados à estação, que finalmente puderam voltar a acontecer em solo estadunidense — vale lembrar que, mesmo assim, ainda vimos astronautas dos EUA indo ao laboratório e voltando à Terra em naves russas.

É esta a mudança que acompanhamos em De Volta ao Espaço, sob a direção de Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi.

Do solo ao espaço

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Resumir em cerca de 2 horas de produção uma etapa tão importante para o programa espacial dos Estados Unidos não é algo fácil, mas o documentário da Netflix cumpre a tarefa e se arrisca além dela, oferecendo entretenimento e até tensão para quem está assistindo. Um pouco disso está nas cenas que mostram a expectativa (quase palpável!) dos funcionários da SpaceX durante os primeiros lançamentos dos foguetes da família Falcon.

Nesses momentos, os vemos apreensivos enquanto aguardavam o que poderiam ser voos de sucesso ou explosões dos veículos lançadores no espaço ou em tentativas de pouso — que, embora signifiquem a perda dos foguetes, também trazem aprendizados importantes para ajustes e correções necessários para novos lançamentos. Muito desta tensão é visível em algumas das cenas em que Elon Musk aparece.

Conhecido por seu comportamento, digamos, excêntrico, o bilionário aparece sempre atento ao andamento das tentativas e processos da SpaceX: em uma cena, a ansiedade é tanta que ele deixa a sala de controle da missão antes mesmo de saber o resultado dela. Mesmo para quem não é entusiasta da astronáutica, fica fácil entender o motivo de tanto nervosismo.

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A clareza das contextualizações apresentadas é um acerto feliz de De Volta ao Espaço. Claro que aqueles que já têm alguma familiaridade com o assunto compreendem rapidamente a necessidade que a empresa tinha de provar à NASA que estava pronta para trabalhar em parceria — mas, por outro lado, quem não está por dentro das novidades da indústria também conseguirá acompanhar o andamento dos eventos.

Por fim, vale mencionar alguns acenos a marcos do programa espacial estadunidense, como as tragédias com os ônibus espaciais Challenger e Columbia e o legado do programa Apollo. Infelizmente, as menções são breves e não aprofundam muito o que aconteceu nos acidentes ou o porquê de a NASA ainda não ter levado novos astronautas à Lua. Mesmo assim, servem para instigar a curiosidade do público.

Espiadinhas nos bastidores

A Estação Espacial Internacional orbita a Terra há mais de 20 anos e já abrigou tripulantes de diferentes países. O legado do laboratório orbital é longo, e a NASA e demais agências espaciais parceiras costumam realizar transmissões, sessões de perguntas e respostas e outros eventos para aproximar o público das atividades que acontecem por lá. Esse trabalho de encurtar a distância entre astronautas e o público também está presente em De Volta ao Espaço.

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A produção da Netflix encontra tempo no roteiro para mostrar os astronautas do complexo orbital flutuando livremente pela estação ou celebrando a chegada de novos tripulantes; em outro momento, vemos Bob Behnken abocanhando um docinho flutuando na estação durante uma entrevista ao vivo. São cenas divertidas e leves, que funcionam para chamar a atenção do público para o trabalho conduzido na ISS.

Há cenas em que somos levados para “espiar” as rotinas de Bob Behnken e Doug Hurley em casa, com suas famílias; em outras, vemos relatos das esposas deles (que também são astronautas!) contando como os conheceram e os desafios do trabalho no espaço. As filmagens são breves e, além de interessantes, mostram um lado dos astronautas que, às vezes, pode ficar esquecido em meio a lançamentos e experimentos na estação.

Em meio a brincadeiras sobre as diferenças no jeito de cada um, Behnken e Hurley também destacam os riscos inerentes ao lançamento da missão Demo-2. É interessante vê-los lembrando ao público que também sentem certa apreensão — e que essas emoções se estendem aos seus filhos que, embora pequenos, já entendem um pouco dos perigos. Mesmo assim, a dupla encara o desafio e reforça a confiança que tem na SpaceX e na NASA.

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O problema dos excessos

É inegável que a SpaceX teve importância astronômica para a retomada dos lançamentos à estação tanto por questões políticas quanto científicas. Isso é orgulhosamente retratado no documentário do serviço de streaming, que exalta a eficiência da empresa de Musk e destaca que a NASA reconhece que uma “ajudinha” não cairia mal. O problema é que, ao mesmo tempo, De Volta ao Espaço tenta alavancar algum tipo de empatia desnecessária com ele.

De tempos em tempos, o nome de Musk volta às manchetes por causa de algum comentário ou ação controversa, no mínimo. Enquanto isso, o documentário nos mostra ele se arriscando em “dancinhas” para repórteres em entrevistas em meio a risadas, ou brincando com um lança-chamas.

Mas, calma, não o leve a mal, nem só de “bom humor” vive Musk: também vemos o homem mais rico do mundo com os olhos marejados após lembrar que os astronautas do programa Apollo, que descreve como heróis, criticaram duramente a dependência da NASA em veículos espaciais de empresas privadas.

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Veja, o ver o “outro lado” de uma figura pública como ele não é exatamente um problema. O que pesa é a falta de olhar crítico dos diretores que, enquanto apontam essas “gracinhas” do fundador da SpaceX, apenas passeiam brevemente por episódios desfavoráveis a ele e deixam de lado todo o resto — por exemplo, não há menção alguma sobre as consequências da expansão da SpaceX em Boca Chica, no Texas, ou questionamentos sobre a viabilidade e consequências de levar a humanidade a Marte.

A falta de autocrítica também vale para a empresa, apresentada quase como a grande salvadora da NASA. Se hoje a SpaceX pode se dar ao luxo de explodir foguetes e depois consertar o que for necessário no processo até conseguir bons resultados, é porque aproveita o legado deixado pela agência estatal, suas certificações e processos — que, embora sejam descritos como burocráticos e lentos demais, são eficientes.

Ao fim de De Volta ao Espaço, vemos um pouco dos preparativos para o lançamento da missão Crew-1, a primeira totalmente operacional lançada por meio do Commercial Crew Program. Fica a sensação de que há algo grande acontecendo, iniciado e proporcionado pela SpaceX e suas cápsulas tecnológicas e digitais, parecendo que saíram de algum filme futurista — e que vale a pena acompanhar o que ainda virá.

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De Volta ao Espaço está disponível no catálogo da Netflix.