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Amor de Quarentena | Narrativa via WhatsApp traz reflexões sobre amor e saudade

Por| 16 de Novembro de 2020 às 10h45

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Em meio aos obstáculos impostos pela pandemia, a área do entretenimento tem buscado na tecnologia uma aliada para conquistar as pessoas sem que seja necessário sair de casa. Temos visto isso nas lives, por exemplo, e em conteúdo audiovisual feito de maneira completamente remota. No entanto, Amor de Quarentena é uma obra audiovisual que aposta na inovação. Acontece que, diferente de tudo o que se tem visto, a narrativa é vivenciada pelo Whatsapp, e o espectador escolhe até mesmo o artista com o qual gostaria de viver essa experiência. A temporada dura até 30 de novembro.

Amor de Quarentena é descrita como "uma microficção que está em cartaz via WhatsApp". O texto é do cineasta argentino Santiago Loza, mas a direção está nas mãos de Daniel Gaggini. Na prática, funciona da seguinte maneira: ao comprar o ingresso, o participante (de qualquer parte do país) escolhe um dos artistas do elenco (Reynaldo Gianecchini, Mariana Ximenes, Débora Nascimento ou Jonathan Azevedo) para guiá-lo ao longo de uma experiência de 13 dias. São mais de 60 mensagens de voz e de texto, além de áudios, vídeos, canções e fotos, com a ideia de reconstruir um vínculo amoroso imaginário.

A experiência almeja brincar com os limites difusos da ficção, com as formas de relato propostas pelos novos meios de comunicação. E, nesse jogo de papéis, quem recebe as mensagens pode seguir as pistas de uma relação passada para reconstruí-la. “Gosto da ideia do amor que volta em um momento em que há tantas más notícias circulando e o futuro se torna tão frágil. Nos faz lembrar de que somos finitos, que não existe eternidade e que sentimos a necessidade de nos aferrar ao amor. Assim, a cada dia, uma nova mensagem nos espera, nos distrai, nos renova a ilusão”, observa o autor Santiago Loza.

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A obra já estreou na Argentina, Espanha, Uruguai, Chile, Equador e Paraguai e, em breve, chegará à Alemanha, Austrália, México, Peru, Colômbia, Holanda, França e Portugal. As produções internacionais contam com nomes como Jaime Lorente (La Casa de Papel).

No Brasil, os atores que produziram as fotos e vídeos, e eles que escolheram as canções que são envidas ao público. “A ideia foi criar um vínculo do passado a partir das experiências pessoais dos atores, usando suas próprias casas como locações e os diversos sons e ruídos que o cotidiano produz. Isto provoca uma sensação de intimidade, uma experiência única”, diz Daniel Gaggini, que, juntamente com Luciana Rossi e Juliana Brandão, trouxe o projeto para o Brasil.

Em todos os países, parte da arrecadação com os ingressos vem sendo destinada a uma entidade que auxilie artistas e técnicos das artes cênicas, sem trabalho por conta da pandemia. No Brasil, o fundo escolhido foi o Marlene Colé, gerido pela APTI – Associação de Produtores Teatrais Independentes, com sede em São Paulo/SP.

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"Um antigo amor comunica-se em tempos de isolamento. Escutamos sua voz e a reconhecemos; e, de alguma maneira estranha, ela nos faz companhia. Todos os dias, chegam novas mensagens. Também algumas imagens ou canções. O amor como um rastro a seguir. Uma presença, uma espera. O espectador/ouvinte/amado pode escolher a voz que o guiará no trajeto. As atrizes e atores que participam da obra contribuem com aspectos de sua cotidianidade, são mais que intérpretes, são membros ativos na construção do relato amoroso", consta a sinopse da narrativa audiovisual.

Da concepção à execução

Em entrevista exclusiva ao Canaltech, o diretor Daniel Gaggini conta que foi algo novo, não só dirigir a experiência, como também dirigir de forma remota, pois foi o primeiro projeto que fez à distância, sem ter contato direto com os atores e a equipe técnica. "Todo o processo me mostrou que é possível sim trabalhar desta forma, mesmo que haja perdas, também há ganhos dentro de uma circunstância extraordinária, como a atual", afirma.

Ele opina que ainda não sabemos quais os impactos que a pandemia e o distanciamento social podem ter causado aos relacionamentos interpessoais de forma mais prática, mas que, em seu ponto de vista, as redes sociais e os demais meios de comunicação que surgiram com a tecnologia ajudaram a minimizar um impacto que seria ainda maior.

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Questionado sobre a importância de gerar intimidade entre o público e o ator, o diretor aponta que o membro ativo na construção do relato amoroso é o público, e não o artista. "No nosso caso, a criação do vínculo íntimo entre artista e público é justamente o ponto de partida para a experiência, daí também a importância de o artista ter uma voz conhecida, de o público reconhecer instantaneamente esta voz, que lhe traz uma memória sonora", disserta.

"Tudo isto conflui para a construção necessária que o público deve fazer por si e, quanto mais rica for essa construção, mais interessante será a experiência. O artista dá, nas mensagens que envia ao longo de 13 dias, várias pistas do que foi a relação, cabe ao receptor delas receber estas pistas e ir construindo essa relação passada", acrescenta o diretor.

Para o diretor, a melhor parte do projeto foi o retorno do público. "Recebemos mais de 300 mensagens de um público variado, desde professores, terapeutas e profissionais de saúde, nas quais todos destacaram o quanto a experiência foi importante neste momento", conta. Em contrapartida, o maior desafio foi o distanciamento. "Dirigir de forma remota e, aos poucos, ir buscando a melhor maneira de fazer isto sem perder a qualidade do trabalho e, claro, o aspecto humano que é fundamental para a experiência".

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Conversamos também com Ignacio Fumero, idealizador do projeto. "O formato foi uma resposta a uma necessidade que surgiu quando os teatros foram fechados e artistas e produtores se viram em dificuldade de trabalhar por conta da pandemia. Comecei a pensar como o ato artístico poderia ser levado a um meio digital, e logo pensei no WhatsApp por permitir o envio de vídeos, fotos, música, mensagens de texto e voz", relembra.

Ele conta que o formato foi mudando por intermédio de feedback dos espectadores. Por isto, desde a experiência que estreou no Uruguai, o sistema mudou muito e agora a ideia é incluir algum tipo de interação com o público. Ignacio revela um pouquinho dos bastidores, também: "Há um sistema que foi desenvolvido especificamente a partir da experiência no Uruguai e que permite que os envios sejam feitos de forma automática e também com o uso de inteligência artificial. Estamos trabalhando para que o sistema seja mais preditivo e, assim, evoluir para a interação".

Ignacio diz, ainda, que a necessidade se sobrepôs ao desejo da inovação, ou seja, a partir da necessidade, a equipe foi trabalhando no formato e, junto com os artistas que participaram, foi construindo algo que proporcionasse uma "experiência artística agradável e interessante". O idealizador revela também que no início de dezembro, haverá o lançamento de um aplicativo que contenha todas as experiências que foram realizadas no mundo e que proponha uma imersão artística.

"A resposta das pessoas e o resultado nos surpreenderam e, como temos uma flexibilidade muito grande de trabalho e uma capacidade ampla de ir aprimorando o sistema a partir da resposta do público, creio que estamos avançando para uma nova forma de entretenimento que vai se somar às outras e que abrimos vários caminhos e possibilidades. Tanto é assim que pessoas de muitas partes do mundo têm nos procurado para viver a experiência", finaliza o idealizador.

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A Experiência

Tendo tudo isso em mente, o Canaltech mergulhou nessa experiência via WhatsApp. "Oi... Você deve achar estranho essa mensagem. Tomara que não ache inconveniente. Eu pensei muito se deveria te procurar ou não. Quero dizer que eu coloquei a dúvida em uma espécie de balança mental. Já faz tempo que não sabemos nada, que não temos notícias, então me pareceu uma oportunidade. Na verdade, uma necessidade". É com esse áudio que Reynaldo Gianecchini começa a reviver um amor antigo.

Ao longo de vários dias, fomos recebendo mensagens de texto, mensagens de áudio (que compõem a maioria do conteúdo), fotografias e vídeos feitos pelo próprio ator, além de links para videoclipes de músicas que tenham a ver com o que ele está dizendo.

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Um ponto curioso dessa experiência é que, em momento algum, o ator mostra o rosto. Talvez a ideia, aqui, seja que o público possa dar à autoria das mensagens e à voz por trás dos áudios uma face de acordo com a própria imaginação, ou até mesmo ligar a imagem à de alguém que já foi de seu passado, para tornar tudo ainda mais pessoal. A ideia de levar uma narrativa ao WhatsApp é certeira no que diz respeito a abraçar a tecnologia em um período tão conturbado como esse que estamos vivendo. Em uma era de ascensão das redes sociais, as mensagens trazem de fato a sensação de cotidiano, e acendem algumas faíscas de nostalgia.

Por outro lado, a tal da interação apontada lá em cima pelo próprio idealizador do projeto faz-se uma certa urgência. A ausência completa de interação (uma vez que o público é justamente orientado a não responder as mensagens e não há conversa alguma com o ator) acaba impedindo uma imersão completa na narrativa e deixando transparente a automatização. Talvez um ou outro áudio personalizado com o nome da pessoa já seja suficiente para suprir essa necessidade de tornar a narrativa algo mais pessoal.

De qualquer forma, a ideia em si é um primeiro passo para produções cada vez mais imersivas, colocando o público no protagonismo das narrativas, algo que só tem a acrescentar para a área do entretenimento.