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25 anos da Herói | Editores relembram curiosidades e desafios da revista

Por| 29 de Dezembro de 2019 às 10h53

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25 anos da Herói | Editores relembram curiosidades e desafios da revista
25 anos da Herói | Editores relembram curiosidades e desafios da revista

Quem hoje abre sites como o Canaltech ou qualquer outro que fale sobre nichos de tecnologia, cultura pop e assuntos mais direcionados, talvez não imagine como era acessar essas informações nos anos 1990, quando a comunidade brasileira começou a crescer muito em torno desses temas. Não havia internet, então as publicações impressas eram as únicas fontes mais confiáveis e recorrentes. E, dentre as opções na banca, uma fez história: a Herói, que em 2019 comemora 25 anos.

Para celebrar, o editor-chefe da Herói, André Forastieri, e os colaboradores Pablo Miyazawa, Odayr Braz Júnior e Dani Ianni falaram um pouco sobre as curiosidades e histórias que marcaram a trajetória da revista e do próprio cenário geek/nerd brasileiro naquela época. Eles contaram muita coisa a respeito durante um painel da Comic Con Experience 2019, em São Paulo.

Só para contextualizar, tudo começou com Forastieri e Rogério de Campos, que no começo dos anos19 90 eram redatores da revista Set. Em 1994, eles deixaram a Editora Azul para criar a editora Acme, que seria então a mãe da Herói ao lado da Nova Sampa. O grande carro-chefe era a série animada Cavaleiros do Zodíaco, que seria a grande responsável pela popularização dos animes e mangás em solo tupiniquim.

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Do início à invasão nas bancas

Forastieri sempre foi fã de heróis e ficção científica, então sua vontade era de ter uma publicação brasileira semelhante às que ele leu durante sua infância e adolescência. “Quando era pequeno, em Piracicaba, sempre comprava quadrinhos em uma certa banca, onde vi uma vez a Cinemin, da Ebal, que tinha o Superman do Christopher Reeve na capa”, recorda.

“O filme não tinha saído e era uma revista sobre personagens. Depois, já mais velho, quando fui escrever sobre quadrinhos na Folha de S. Paulo, comprava todas as revistas gringas que falavam de quadrinhos e ficção científica, como a Comics Scene e a Fangoria. ‘Por que não temos uma revista dessa no Brasil?’, pensei. Aqui tinha a Terror e Ficção, da Editora Azul, mas, então, quando abri a Acme, a ideia da primeira revista era para ser essa e não a General”.

A General, que também mirava um público mais velho, era mais ampla; abordava música, cinema e cultura pop em geral.

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Braz Júnior lembra-se bem dos primeiros dias de confecção da Herói.

“O que lembro quando falamos da Herói é a gente em um apartamentinho, onde nasceu a primeira edição. Teve até um quartinho onde eu ficava que um dia acabou a luz e fiquei uns três ou quatro dias trabalhando sem iluminação. Como trabalhávamos até o final da noite, então ficava com a luz do monitor”.

Segundo Braz Júnior, nesse período a Acme editava quatro revistas, “uma de quadrinhos, uma de RPG, uma de cinema e outra de série de TV”. Quando veio a ideia de fazer algo para aproveitar o hype em torno dos Cavaleiros do Zodíaco, surgiu então a oportunidade de lançar material semanal — e, posteriormente, bissemanal.

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O nome? Quem batizou foi Forastieri. “A revista iria se chamar Saga ou Fusão. Aí tinha uma revista chamada Hero, que estava falindo, então falei ‘por que não chamar essa revista de Herói?'”. E assim ficou.

Improviso fazia parte do cotidiano

“Foi meu primeiro emprego como jornalista e, quando fui fazer entrevista para a vaga, aquele lugar era uma loucura. A quantidade de gente que passava o tempo todo gritando e falando bobagem era grande e pensei que era impossível que dali saísse a revista (risos). Mas sabia que se entrasse ali minha vida mudaria… e mudou mesmo”, comenta Miyazawa, que depois da Herói passou pelas versões nacionais da Electronic Gaming Monthly (EGM), Rolling Stone, entre outras.

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Uma das grandes barreiras para publicar o conteúdo estrangeiro por aqui era conseguir imagens e até mesmo as informações básicas, pois não havia internet naquela época.

“A gente não tinha imagem de praticamente nada. Quando precisávamos de imagens dos Cavaleiros do Zodíaco, escaneávamos as caixas dos bonecos, de amigos que compravam para os filhos. E usávamos com parcimônia, para não gastar tudo de uma vez. Muita coisa a gente também tirava de captura direta dos próprios desenhos”.

Segundo Forastieri, o pessoal da Liberdade, bairro povoado por muitos imigrantes japoneses na capital paulistana, ajudava bastante na hora de conseguir o conteúdo original. “Tínhamos um esquema quase mafioso (risos). Assim que essas fontes recebiam as revistas japonesas, guardavam para a gente”.

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Outros assuntos, como a chegada dos Pokémon, dependiam dessas edições. Os textos, posteriormente traduzidos, assim como as imagens para ilustrar as matérias, vinham desse material asiático, incluindo vídeos.

A estratégia girava em torno de terminar o trabalho rapidamente e estar presente no máximo de locais possível.

“A gente chegava em todo o lugar porque a estratégia era entupir todas as bancas do Brasil. Os exemplares que voltavam, a gente relançava. A ideia era: ‘Se não tivermos dez exemplares da Herói em cada uma das maiores bancas do Brasil, estamos fazendo errado’. Assim as pessoas também podiam colecionar, porque se o cara não tinha dinheiro naquela semana, na outra ele tinha e a edição que ele perdeu voltava para ele poder comprar”, explica Forastieri.
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Invasão ao set de gravações do Homem-Aranha de Sam Raimi

Uma das histórias mais curiosas da trajetória da Herói é a inesperada presença de Miyazawa, Forastieri e Braz Júnior no set de gravações do primeiro Homem-Aranha de Sam Raimi, em 2001. “A gente estava fazendo uma cobertura da E3 (Electronic Entertainment Expo) em Los Angeles e um site dizia que as gravações do filme estavam acontecendo perto do nosso hotel. Como a gente não estava fazendo nada, fomos lá. Era umas 11 da noite, estava tudo fechado, era um dia de semana, acho que terça-feira”, recorda Miyazawa.

Só havia um policial fazendo a segurança e, depois de perguntar se podia entrar na área para ver, o trio conseguiu seguir em frente. “Fomos andando, andando e ninguém parava a gente. Passamos por gruas, haviam umas caixas de jornal do Daily Bugle (do famoso J. Jonah Jameson). As ruas tinham sido molhadas por mangueiras, estavam lá placas de carros de Nova York, inclusive da polícia (NYPD) — as filmagens aconteciam em Los Angeles, mas a história se passava em Nova York.”

Em certo momento, Forastieri deixou o grupo e foi embora. “Mas continuamos andando, até que chegamos do lado do Sam Raimi. A gente ficou ali um tempo enquanto ele tentava dirigir uma cena de ação. Não tinha nenhuma celebridade, porque era uma sequência feita por dublês. Era a que o Peter Parker perseguia o ladrão que matou o Tio Ben”, diz Braz Junior.

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“Pensamos que poderíamos ficar ali acompanhando toda a gravação, já que ninguém tinha notado que estávamos ali. Mas aí o Sam Raimi olhou para a gente e perguntou: ‘Quem são esses caras?’. Antes de ir embora, ficamos umas três horas lá”, diverte-se Miyazawa.

Na época, os filmes de super-heróis não faziam o sucesso de hoje e os responsáveis pela Herói não tinham a menor noção de que o Homem-Aranha de Sam Raimi seria um dos hits que abririam caminho para o Marvel Studios. “No final, o que aconteceu virou só uma notinha na Herói, com uma foto de longe” — imagine o que isso seria nos dias atuais, com Instagram e selfies por todo lado?

O começo do fim da Herói

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A Acme nasceu, segundo Forastieri, “com o equivalente a R$ 12 mil, o que acabou em três meses”. A Herói ajudou a editora a continuar no setor, com um estrondoso sucesso. No auge, chegou à tiragem de 450 mil exemplares, até mais que a Veja em seu tempos de glória. Quando as últimas edições, já em meados de 2000, foram lançadas, vendiam 27 mil unidades — algo impensável para o mercado editorial atual, que migrou para o ambiente digital.

Segundo Forastieri, durante todos os anos da revista, houveram reuniões com a Editora Abril e seu então poderoso braço infantojuvenil, a Abril Jovem — que poderia injetar o fôlego financeiro necessário para a prolongar a vida da Herói. “Tivemos várias conversas com a Abril e a Abril Jovem, mas era uma arrogância e hoje aí está o resultado. Estamos felizes, mas tem muita gente que saiu de lá infeliz”.

Entretanto, a chegada da web foi rápida e cruel para o mercado impresso em geral, principalmente na virada dos anos 2010. ”A gente vivia mudando a revista e, com a chegada da internet, haviam coisas muito mais legais que a Herói por lá. As pessoas passaram a poder acessar, cada um, o que queria ver ali de uma forma muito mais viva do que era a revista. Tentamos fazer para gente mais velha, com outros formatos, como a Herói Plus”, lembra Forastieri.

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“E também tinha uma grande limitação nossa, que era não conseguirmos vender anúncio. Se tivesse sido lançado pela Editora Abril na época, junto com Mundo Estranho e Superinteressante, talvez a força do grupo pudesse ter levado em frente.”

A sobrevida no site e na memória dos fãs

Também houve tentativas de levar a publicação para o mundo virtual. “Mas nunca conseguimos fazer com que o site desse grana. Quando isso começou a acontecer, houve uma separação, já estávamos fazendo outras coisas; começamos a fazer quadrinhos na (editora) Pixel e o setor de games estava crescendo loucamente. O mundo foi mudando e vários outros sites também passaram a existir com esse conteúdo”, recorda Forastieri.

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Dani, que foi editora de arte durante um bom tempo e até hoje interage com os leitores em redes sociais e no próprio site (com quase 125 mil cadastros ativos), mantém um pouco do legado da Herói vivo no ambiente digital. “A coisa mais legal, já depois, quando a equipe era reduzida e estava no fim, era receber os relatos dos fãs e de filhos de fãs em posts com revistas antigas. Até hoje as pessoas lembram da importância da Herói.”

E Forastieri complementa: “talvez a lógica que a Herói tenha atualmente é encontrar os fãs ao vivo. Para que as pessoas que vivem em nichos na internet possam ter essa sensação de comunidade”.