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Educação: coluna vertebral da transformação digital

Por| 05 de Outubro de 2021 às 10h00

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O mundo das tecnologias da informação e comunicação (TIC) oferece um amplo leque de temas para análise e, em alguns casos, vem com a oportunidade de desenvolvimento de projetos. O interessante sobre as duas vertentes é que elas são cada vez mais são similares. Uma vez identificado o problema a ser resolvido, o próximo passo é determinar as ferramentas que serão utilizadas para sua solução. Uma solução que contará com vários elementos, como sensores (leia-se dispositivos da chamada Internet das Coisas), serviços de analítica, serviços de armazenamento em nuvem, aplicações dedicadas e uma rede capaz de transmitir bidirecionalmente a informação em alta velocidade.

Neste ponto, a equação torna-se mais complexa, pois à transversalidade da economia 4.0 passamos a agregar protocolos de segurança e outras limitações que são impostas pelo marco legal da jurisdição onde estarão essas soluções.

Tudo bem do ponto de vista da produtividade e da eficiência. No entanto, nos mundos da tecnologia e da economia, nada é tão simples quanto parece. Primeiro, vamos considerar que todos esses processos realizados com mais eficiência podem ser categorizados em dois grupos amplos: tecnologias de habilitação e tecnologias de substituição.

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Como você pode imaginar, as tecnologias de substituição são aquelas que tornam certos empregos obsoletos, deixando em seu rastro, indivíduos que precisam ser retreinados em outras habilidades para poderem ser reintegrados à força de trabalho. Claro que não é tão simples, pois as consequências psicológicas e sociais desse processo podem ser bastante cruéis para quem não tem a orientação ou o suporte necessário para se reinventar no trabalho e buscar um novo emprego.

O outro extremo são as tecnologias facilitadoras, aquelas que criam oportunidades de trabalho para indivíduos que já estão no local de implantação. Isso porque elas colaboram com o trabalhador, aumentando sua produtividade e, portanto, seu valor perante seu empregador.

O que chama a atenção nesse processo é que, historicamente, desde o Império Romano até os dias atuais, os mais impactados pelos processos de substituição são os trabalhadores com menos qualificação e escolaridade. Os estudos acadêmicos nesta área são numerosos: basta entrar em uma biblioteca e procurar os escritos de Acemoglu, Biacabe, Bormann, Frey, Restrepo e Wisskirchen para encontrar evidências empíricas de como os benefícios dos avanços tecnológicos não se distribuíram simetricamente entre a população. Os mais vulneráveis ​​foram aqueles que suportaram o impacto.

No passado, os governantes podiam optar por continuar com processos ineficientes e rejeitar a implementação de novas tecnologias, temendo que o custo político de um número crescente de desempregados pudesse ameaçar seu mandato. Experiências como essas podem ser encontradas tanto na era imperial de Roma, quanto nos reinos da Polônia e da Inglaterra durante a Idade Média, para citar alguns exemplos. Atualmente, essa abordagem não é possível nem desejada, pois se trata de buscar o benefício do maior número de pessoas da população.

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Como enfrentar a inevitável automação dos próximos anos? Como amortecer o impacto das tecnologias de substituição?

Em outras amplitudes, os governos têm explorado formas de atualizar e melhorar a educação das pessoas e, dessa forma, atender ao novo número de desempregados em carreiras que gradualmente se tornam obsoletas (é importante destacar que não é um processo imediato, mas lento) e simultaneamente criar as estruturas necessárias para dotar as ferramentas e competências necessárias que a nova força de trabalho, aquela que surge com a automação, deve atender.

É justamente neste ponto que a famosa transversalidade, que se prega como parte da famosa transformação digital, deve ser implementada. Os governos devem rever suas iniciativas e começar a desenhar esquemas pedagógicos e formativos que respondam às grandes transformações pelas quais está passando o campo do trabalho. Desde a criação de escolas técnicas para a requalificação dos trabalhadores até o aumento do número de carreiras técnicas oferecidas no mercado.

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O trabalho é complexo e não deve se limitar a focar em universidades ou outros centros de ensino superior, mas começar a ensinar habilidades digitais desde o ensino fundamental. Deve haver incentivos que permitam ao trabalhador ingressar em uma curta carreira técnica que lhe permita viver em um ambiente cada vez mais digitalizado sem ter que se preocupar em não receber um salário para pagar as contas que chegam em sua casa a cada mês.

Em outras palavras, não pode haver transformação digital e o sucesso de uma estratégia nacional de conectividade não pode ser esperada se ela não tiver a educação como sua espinha dorsal. No final das contas, o principal recurso de que os países dispõem não são seus aparelhos ou a tecnologia de sua infraestrutura de telecomunicações, mas o capital humano de que dispõem.

Espero que os políticos de plantão não se esqueçam disso.

*José F. Otero é professor adjunto da Universidade de Nova York. Esta coluna é escrita em caráter pessoal.

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Twitter: @Jose_F_Otero