Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

Como a tecnologia está virando a educação de ponta cabeça

Por| 25 de Janeiro de 2022 às 15h00

Link copiado!

Geanna8/Envato
Geanna8/Envato

Em meu primeiro artigo aqui no Canaltech, comentei brevemente sobre como o modelo tradicional da educação vem incorporando novas tecnologias, que trazem a capacidade de customizar o ensino para as aptidões de cada indivíduo e tornar o aprendizado dinâmico, produtivo e muito mais interessante para os alunos.

A escola tradicional, aquela em que o professor fica na frente da sala, com um quadro negro e algumas dezenas de alunos entediados copiando o conteúdo, é modelada a partir do exemplo praticado na Prússia do século 19. Naquela época, o estado prussiano, que foi o precursor da Alemanha, se utilizou desse modelo educacional para massificar e formar cidadãos preparados para a guerra. Exatamente por ser um período pós-guerras napoleônicas, eles queriam reforçar o poderio militar de um país relativamente pequeno e cercado de grandes potências por todos os lados.

Dizer que esse modelo é relativamente antiquado e precisa ser fortemente modificado pela tecnologia já é um clichê. Por outro lado, quando a gente fala de tecnologia, não é qualquer novidade ou qualquer maluquice hypada, que vai fazer a diferença. Por exemplo, professores em hologramas, alunos em tela touch interagindo com lasers e coisas pirotécnicas... Isso dificilmente vai mover um milímetro do ponteiro do aprendizado. O que a gente tem que tentar entender melhor é a dinâmica do aprendizado.

Continua após a publicidade

No modelo tradicional, até por impossibilidade de ser de uma outra forma, você tem basicamente um professor que é o "detentor do conhecimento". Ele é o adulto com o conteúdo na cabeça e que precisa preparar uma aula mediana imaginária, voltada para um aluno mediano imaginário. Na prática, é imaginar o ritmo médio que aquela turma consegue caminhar e dar forma para esse aluno que não existe. Baseado nisso, todos os alunos recebem praticamente o mesmo conteúdo, na mesma velocidade.

Temos vários problemas nesse processo, mas darei destaque a um que considero o maior deles, que é justamente o fato desse aluno médio não existir, pois sempre teremos uma boa parcela de alunos muito mais rápidos, com cognitivo de maior facilidade ou com um interesse muito maior pela matéria. Esses alunos serão subaproveitados e podem ficar desmotivados. A tendência é de que esses alunos achem que a aula é muito fácil, perdendo o interesse e até tenham o próprio aprendizado prejudicado.

Em contrapartida, uma outra parcela dos alunos pode ter mais desafios em habilidades lógicas, matemáticas, linguísticas ou artísticas. Dependendo da matéria, esse aluno real pode apresentar mais dificuldades do que o tal aluno médio imaginário para o qual o professor está dando aula. Para ele, a aula vai ficar muito rápida, muito difícil e ficarão lacunas no conhecimento.

Em matemática, por exemplo, a lacuna é fatal. Você não tem como seguir para a próxima etapa, se você não souber a primeira. Você não consegue, por exemplo, saber álgebra antes de aprender a aritmética. Você não consegue aprender multiplicação, sem antes saber muito bem operações de somar. E assim por diante. Com isso, o modelo vai criando uma parcela de alunos desmotivados e entediados, porque a aula está muito fácil, e outra parcela de desmotivados e amedrontados.

Continua após a publicidade

Bons exemplos

A tecnologia traz uma possibilidade inédita de se resolver isso com sistemas. O principal exemplo é o LMS (Learning Management System), um sistema de gerenciamento do aprendizado em que o professor consegue disparar diferentes conteúdos para cada aluno e a própria plataforma se adapta à velocidade de cada um. Então, se o estudante é um pouco mais lento, o sistema vai diminuindo a velocidade, usando mais reforço e até alguns horários extras para que ele possa acompanhar. Se for mais rápido, a própria plataforma, ao terminar os exercícios, disponibiliza desafios extras de forma que ele se sinta sempre engajado.

Importante destacar que, no aprendizado, o aluno não deve ser valorizado pelos seus resultados ou ser elogiado com um “como você é inteligente” ou “que nota boa você tirou”. Certamente, tais incentivos são agradáveis aos ouvidos, mas podem ser um tiro no pé. Se o aluno é elogiado pelo resultado ou pela inteligência isso se torna um estímulo para que ele fuja de desafios complexos e tente sempre baixar a régua para garantir mais elogios no futuro. É sempre mais interessante valorizar pelo esforço. Do ponto de vista pedagógico, é melhor ter um aluno que assume um desafio dificílimo de matemática por exemplo, passa horas engajado e, ao final, não consegue, do que um aluno que, por segurança, pega um problema fácil, mata em cinco minutos e depois recebe o elogio dos adultos. O sistema educacional faz um favor a esse aluno que não terminou o problema, ao estimular o raciocínio, o esforço e resiliência. E as plataformas LMS conseguem ajudar muito nessa prática, garantindo manter o aluno sempre no limite da sua capacidade.

Outra vantagem da tecnologia é o chamado efeito “superstar”. No modelo escolar tradicional, você tem o professor que está lá, pago e capacitado, mas ele pode ter diferentes níveis de conhecimento, qualidade e didática. Quando temos as plataformas de ensino com tecnologia, a escala é exponencial. Então, conseguimos ter professores “superstars”, altamente especializados em certos conteúdos, que podem, muito bem, dar pequenas aulas sobre temas específicos. Imagine um professor que é pesquisador de astrofísica, que ama astronomia, que conhece tudo sobre planetas, que pesquisa sobre a área e que fala como ninguém sobre o assunto. Este profissional pode dar uma aula magna, via tecnologia, para milhares de alunos, abordando o tema em que é especialista, com uma propriedade que dificilmente outros professores vão atingir. Parte da chave para uma boa educação é incutir nos alunos a paixão pelo saber e nada substitui um bom docente nesse aspecto. Professores incríveis, bem formados, referência em suas áreas, podem encantar os alunos e despertar esse interesse como nenhum robô jamais poderá fazer. A tecnologia pode estar lá para apoiar esse processo, que precisa ser profundamente humano para funcionar.

Continua após a publicidade

Um terceiro exemplo de tecnologia que agrega muito na educação é a automação da sala de aula e a possibilidade de ter mais KPIs, ou seja, indicadores-chave de performance. Afinal, não dá para melhorar nada que você não possa medir, não é mesmo? E a China é pioneira nesse quesito. Por lá existem softwares para verificar se o aluno está ou não prestando atenção e se ele está com dúvidas. Além disso, se um aluno ficar doente, ele pode acessar as aulas gravadas e assistir de casa ou assistir mais tarde. Tudo isso agrega valor ao aprendizado.

Outro ponto fundamental que a tecnologia proporciona é a agilidade na rotina escolar. Hoje em dia, as provas eletrônicas permitem que rapidamente o professor realize inúmeras correções ao mesmo tempo, com retorno imediato para os alunos. Além disso, com as provas inteligentes, que se adaptam a cada nova questão, os softwares não aplicam a mesma avaliação para todos os alunos. O teste é construído em tempo real, de acordo com os erros e acertos do aluno, o que permite medir com muito mais precisão em que ponto da curva de conhecimento cada aluno está.

Dei aqui apenas alguns exemplos de tecnologias voltadas à educação. Mas muitas outras estão disponíveis e ainda serão criadas em um futuro muito breve. Acredito que o nosso grande desafio é fazer com que estas inovações cheguem às nossas salas de aulas. O Brasil ainda está engatinhando nesse sentido. Apesar de investirmos mais de 6% do PIB em educação, um percentual acima da média dos países ricos, nossos índices nos rankings internacionais são muito ruins. Temos investido mal os recursos da educação, em grande medida desperdiçando-os com grandes estruturas burocráticas fora das salas de aula. A tecnologia pode ajudar muito a romper esse quadro tão prejudicial para nossos jovens e o Brasil como um todo.