Quatro tecnologias da Fórmula 1 que estão mudando seu cotidiano
Por Felipe Demartini | 16 de Julho de 2015 às 13h54
Quem vê a Fórmula 1, mas não acompanha o esporte com afinco, pode pensar que ele se trata apenas de um monte de carros barulhentos correndo em círculo. Nos tempos de Ayrton Senna, o esporte tinha uma grande importância para os brasileiros, mas a dominação de alguns atletas, sempre nos primeiros lugares, e a ausência de bons resultados pelos pilotos nacionais acabaram fazendo com que a modalidade perdesse postos na preferência das pessoas, principalmente quando se leva em conta que, para assistir às corridas, muitas vezes é preciso acordar cedo no domingo.
O que muitas vezes passa despercebido é que, como um esporte de ponta, a Fórmula 1 carrega consigo não apenas a velocidade, as pistas e as marcas, mas também um desenvolvimento intenso de tecnologias. Inicialmente, elas são criadas para fazer com que os monopostos ganhem alguns segundos nos circuitos, mas depois, acabam chegando às nossas mãos. E se engana quem pensa que essa mudança se aplica única e exclusivamente aos carros que dirigimos por aí.
Aqui, selecionamos apenas algumas inovações que estão presentes em nosso cotidiano. São ideias que surgiram nas pistas, mas que agora facilitam a nossa vida.
Big Data
Uma das grandes tendências do mercado atual da tecnologia é a análise de dados em grande quantidade por meio de algoritmos e softwares especializados. Como a experiência dos consumidores está cada vez mais diversa, se expandindo por redes sociais, celulares, televisores inteligentes e até mesmo relógios conectados à internet, também cresce o escopo alcançado pelos produtos. Dar conta de tudo isso está cada vez mais complicado.
Como mensurar a recepção dos clientes a novos lançamentos ou atualizações de algo já existente? De que forma lidar com o grande volume de dados para entender exatamente o que está acontecendo no mercado e tomar decisões mais acertadas? A resposta para tudo isso é Big Data, e a Fórmula 1 já vem lidando com um altíssimo fluxo de dados há décadas.
Quem assistiu ao filme “Rush – No Limite da Emoção”, por exemplo, pôde ter uma noção de como tudo funcionava em um momento em que pilotos também tinham um quê de engenheiros. Com blocos de anotações, cronômetros e muito feeling, os ajustes nos carros eram feitos de forma precisa e na base da experimentação, de forma a ganhar preciosos segundos.
Hoje, isso foi substituído por gigantescos painéis nos boxes, algumas dezenas de analistas e milhares de números e dados diferentes. A telemetria é parte fundamental do desenvolvimento de qualquer carro, e o fluxo de dados constante e volumoso precisa ser analisado em tempo real. Não se parece bastante com a definição de Big Data?
Tanto parece que equipes de Fórmula 1 como a McLaren, por exemplo, já trabalham ao lado de companhias de TI, por meio de seu Centro de Tecnologias Aplicadas, para fazer uma troca de soluções que possam beneficiar a ambas as partes.
Saúde
Aqui, na verdade, temos um quesito ligado diretamente ao anterior. Ao aplicar suas tecnologias de telemetria e análise de dados ao mundo real, a McLaren também decidiu se unir a instituições médicas para melhorar o diagnóstico e criar sistemas que auxiliem os médicos.
Em um projeto piloto aplicado no Hospital de Birmingham, no Reino Unido, o departamento pediátrico passou a contar com sensores que utilizavam sistemas de telemetria semelhantes aos de carros para facilitar o diagnóstico de recém-nascidos e crianças de pouca idade. Elas não sabem, ainda, apontar o que lhes afeta, e o uso da tecnologia facilitou a vida na hora de encontrar enfermidades e permitiu que o tratamento fosse mais certeiro.
E se a ideia da telemetria é monitorar todos os aspectos de um carro, por que não fazer isso com pessoas? Foi exatamente essa a ideia de um segundo sistema voltado para a saúde, desta vez, dos atletas olímpicos do Reino Unido. Os sensores foram usados para medir a resposta corporal aos exercícios e identificar áreas em que precisam haver melhoras.
Os atletas da canoagem, por exemplo, tiveram os equipamentos anexados aos remos de forma a mensurar a força empregada por eles e a velocidade de movimento. Mais tarde, uma análise de tudo isso foi feita para que os competidores pudessem entender suas táticas, melhorá-las ou saber exatamente quando estavam exigindo demais de seus próprios corpos, com foco na melhoria de performance.
É uma ideia que, de forma básica, também está sendo aplicada hoje nos smartwatches e pulseiras inteligentes, focados na prática de exercícios. A Apple, por exemplo, tem o HealthKit, seu sistema de interface entre o iOS e plataformas desse tipo para compartilhar informações em tempo real. A Maçã pode não ter tido contato com equipes de Fórmula 1, mas com certeza se inspirou em sistemas médicos como o da McLaren na hora de criar sua própria solução.
Refrigeração
Melhorar a vida das pessoas passa por muito mais do que apenas promover a saúde e os cuidados com o corpo. Há toda uma questão envolvendo a atenção ao meio-ambiente e a criação de produtos mais eficientes para tarefas comuns. Acredite, o refrigerador no qual você acabou de buscar uma água gelada tem muito de Fórmula 1 dentro dele, e não estamos falando das latinhas de Red Bull que estão na prateleira de cima.
Um dos principais trabalhos atuais do time de tecnologia aplicada da equipe Williams está focado em refrigeração. Mais especificamente, a escuderia deseja utilizar suas inovações aerodinâmicas para manter um controle melhor sobre o fluxo de ar dentro dos aparelhos, de forma a jogar o frio para dentro dele e não para fora.
No desenvolvimento dos carros, as equipes utilizam o “túnel de vento” que é, basicamente, o que o nome indica – um local em que o ar é soprado sobre os veículos de forma a mensurar o comportamento deles diante da resistência. Assim, asas dianteiras e traseiras são desenvolvidas, com os engenheiros trabalhando na forma da máquina de forma que ela se torne mais rápida.
A ideia, então, é aplicar aerofólios semelhantes aos dos veículos em geladeiras de supermercados. Como elas ficam abertas para exposição dos produtos, é essencial que o fluxo de ar seja controlado, de forma a não estressar os motores nem fazer com que eles permaneçam ligados o tempo todo.
A expectativa é obter uma redução de 41,5% no consumo de energia elétrica. Nos primeiros testes, a Williams chegou a ter uma eficiência 18% maior com seu sistema de aerofólios, e a ideia é que, junto com uma consultoria quanto ao posicionamento adequado dos freezers, seja possível até mesmo ultrapassar esse patamar e reduzir a utilização de eletricidade.
Fibra de carbono e alumínio
De nada adianta o carro ter o melhor motor, a aerodinâmica mais certeira e o piloto mais habilidoso se ele for pesado demais. Uma das partes mais importantes do desenvolvimento de qualquer carro de Fórmula 1 está na busca por materiais mais leves, que não deixem a segurança de lado e, na mesma medida, não interfiram na velocidade. E se tem um que reúne tais características, é a fibra de carbono.
Leve o bastante para ser rápido e forte o suficiente para aguentar grande stress, o material é comum nas pistas ao redor do mundo e, agora, começa a dar as caras também em outros produtos para o consumidor. Bicicletas de competição ou facas militares, por exemplo, já contam com diversos modelos feitos totalmente de fibra de carbono, todos focados na leveza e resistência. Nos carros de passeio, entretanto, o elemento aparece apenas como detalhes ou em rodas, tetos ou capôs.
Apesar de ainda aparecerem como elementos decorativos, no futuro, a ideia é que o material seja mais e mais usado. Peças e até mesmo a lataria externa podem passar a receber novos elementos em fibra de carbono, com o intuito de deixar os veículos não mais rápidos, mas econômicos.
O mesmo vale para o alumínio, que mesmo não tendo a rigidez necessária para proporcionar a segurança necessária na Fórmula 1, apresenta a leveza desejada pelos engenheiros. E se existe uma indústria fora do automobilismo que abraçou o elemento foi a dos smartphones. Basta olhar para os modelos mais recentes para perceber isso.
Há alguns anos, por exemplo, a Apple já traz iPhones com a parte traseira feita completamente de alumínio. Outras fabricantes, como a Samsung, a Microsoft e a HTC, também seguem essa dinâmica, de forma a dar um resultado leve e, acima de tudo, arrojado para seus produtos. É claro, problemas como entortamentos podem acontecer aqui e ali, mas a ideia geral é que os consumidores estão felizes com as novidades, e se eles estão satisfeitos, também estarão as fabricantes.
Fontes: Williams Advanced Engineering, BBC, How Stuff Works, TechRadar