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Criptomoeda da Venezuela parece ser mais um “fogo-fátuo” do governo de Maduro

Por| 05 de Setembro de 2018 às 17h50

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Criptomoeda da Venezuela parece ser mais um “fogo-fátuo” do governo de Maduro
Criptomoeda da Venezuela parece ser mais um “fogo-fátuo” do governo de Maduro

Uma nova criptomoeda com lastro em abundante reserva de “ouro negro” foi prometida como sendo o respiro tão dramaticamente esperado pela Venezuela. Até o momento, entretanto, a Petro parece ser mais um fogo-fátuo do governo de Nicolás Maduro; uma nova medida paliativa endereçada à compra de mais tempo, ganhando voltas adicionais na espiral descendente que representa a economia venezuelana hoje.

Conforme anunciado pelo governo, as unidades supostamente comercializadas da Petro possuem como lastro os cerca de 5 bilhões de  barris de petróleo sepultados sob uma savana na porção central do país – cuja existência e quantidade teriam sido atestadas por “agência internacional independente”, nas palavras da estatal petrolífera da Venezuela, a PDVSA.

Entretanto, uma investigação conduzida pela agência de notícias Reuters mostrou que a região em que deveria haver instalações para a extração da riqueza não traz mais do que algumas poucas bombas de petróleo abandonadas e arruinadas pelo tempo. Para além disso, há apenas a empobrecida cidade de Atapirire, cuja escola pública deixou de ser frequentada desde que cessou o fornecimento de alimentos subsidiados pelo governo.

Conforme apurou a reportagem, seria necessário um investimento de pelo menos US$ 20 bilhões em infraestrutura – além de uma empreitada de vários anos – para que fosse possível extrair o petróleo do local. Mas essa nem parece ser a questão mais imediata associada à Petro.

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Afinal, onde se pode comprar Petro?

Paralelamente, parece ser impossível encontrar qualquer vestígio de Petros sendo negociadas em bolsas de criptomoedas referenciadas pelo governo. Sabe-se, de fato, que tokens foram emitidos em caráter prévio pela plataforma de blockchain NEM – a fim de que fossem posteriormente trocados por Petros.

Embora seja praticamente impossível localizar quem tenha adquirido Petros na suposta ICO (oferta inicial em moeda) de US$ 3,3 bilhões anunciada pelo presidente Maduro, há fontes anônimas que dizem ter sido “enganadas” pela promessa da criptomoeda.

De fato, apenas um comprador disse à reportagem que comprou a moeda sem maiores problemas – enquanto pedia para não ser identificado, praguejava contra os embargos comerciais impostos pelos EUA e contra a mídia negativista, concluindo, por fim, que não considera que a Reuters seja “uma agência de notícias honesta”.

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Informações contraditórias

Talvez seja impossível saber com certeza se há ou não um conluio organizado por mídias e governos de direita para frustrar o lançamento da Petro. De fato, é até mesmo difícil saber se a moeda realmente foi efetivamente disponibilizada para compra.

Embora o governo venezuelano afirme ter feito seu pé de meia com a ICO da Petro há alguns meses, Hugbel Roa, um dos ministros do gabinete de Maduro envolvido no projeto disse à agência que a tecnologia da criptomoeda ainda está sendo desenvolvida. “Ninguém pôde usar a Petro até o momento, e nenhum recurso foi recebido.”

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Naturalmente, isso levanta dúvida em relação ao montante alardeado pelo governo. “Essa realmente não se parece com uma ICO convencional, considerando-se o baixo nível de atividade”, conforme colocou um dos analistas da financeira Elliptic à Reuters. “Nós não encontramos evidências de ninguém que tenha expedido Petros, ou mesmo sinais de que [a criptomoeda] tenha sido negociada em qualquer bolsa.”

Indexação ao bolívar é impraticável

Vale notar que a associação de uma criptomoeda a alguma espécie de bem ou direito fisicamente exigível não é uma exclusividade do planejamento econômico da Venezuela. De fato, há hoje várias moedas virtuais negociadas com lastro em ouro ou diamantes – na verdade, praticamente qualquer coisa pode ser associada a um contrato inteligente legitimado via blockchain.

O caso da Petro, entretanto, o bem associado – os bilhões de barris de petróleo garantidos pelo governo – jamais seriam prontamente exigíveis nas atuais condições infraestruturais do país. Além disso, também a ideia de indexar o Bolívar à criptomoeda tem sido apontada como temerária ou mesmo completamente impraticável por vários especialistas em blockchain. “Não há como associar preços ou taxas de câmbio a um token que não seja negociado, precisamente porque não há como saber o que, precisamente, está sendo vnedido”, disse o engenheiro da computação venezuelano Alejandro Machado à Reuters.

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Ademais, resta como regra de boa conduta entre os ofertantes de novas criptomoedas que se revele os fluxos e refluxos de unidades transacionadas via blockchain – mesmo que sem identificar cada um dos envolvidos. Trata-se de fornecer a investidores em potencial uma forma de mensurar a demanda pelo novo ativo. Até o momento, entretanto, o livro-razão contendo as transações em Petro permanece tão visível quanto as instalações extratoras de Atapirire.

Fonte: Reuters