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Tudo o que você precisa saber sobre o Hyperloop, o "trem supersônico"

Por| 26 de Janeiro de 2016 às 14h50

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Tudo o que você precisa saber sobre o Hyperloop, o "trem supersônico"
Tudo o que você precisa saber sobre o Hyperloop, o "trem supersônico"

Vivemos em um período onde a tecnologia cresce exponencialmente em diversos setores. Relógios, telefones, óculos, e até mesmo nossas casas estão se tornando inteligentes e automatizadas. No entanto, algumas áreas parecem não ter acompanhado o ritmo dessa evolução, e o transporte é um exemplo lamentável disso.

Enquanto os filmes de ficção-científica mais antigos imaginavam um futuro repleto de carros voadores e teletransporte, a realidade é que em pleno século XXI precisamos nos contentar com, no máximo, os chamados "hoverboards" – uma mistura de skate e Segway com duas rodas que ainda não se mostraram tão seguros quanto deveriam – e protótipos de carros autônomos que ainda não inspiram muita confiança.

Agora, um conceito inovador quer mudar este cenário e dar um passo adiante na modernização dos transportes de passageiros. Estamos falando do Hyperloop, um projeto que ainda vai dar muito o que falar nos próximos anos. Embora não seja tão divertido quanto o teletransporte, ele tem o potencial de revolucionar o transporte de massa.

O que é o Hyperloop?

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Em 2013, o bilionário empreendedor Elon Musk idealizou o conceito do Hyperloop, um sistema de transporte de alta velocidade capaz de mudar a forma como viajamos entre cidades. Além de encurtar o tempo do transporte de massa por terra, a novidade também ajudaria na redução dos danos ambientais causados pelos combustíveis usados atualmente – um compromisso que Musk sempre tenta manter em suas empresas.

Basicamente, o Hyperloop é um sistema de transporte que funciona em uma espécie de cápsula de alumínio que circula dentro de tubos pneumáticos e pode atingir a marca dos 1.200 km/h. Para ilustrar melhor a ideia, pense no desenho animado "Os Jetsons", onde os personagens usavam tubos a vácuo para se mover em torno dos prédios. É mais ou menos isso, só que em uma escala muito maior: a ideia inicial é fazer uma viagem de São Francisco a Los Angeles – praticamente uma viagem entre São Paulo (SP) e Blumenau (SC) – em cerca de meia hora.

O sistema será abastecido por energia renovável e ainda será capaz de gerar um excedente de energia solar, eólica e cinética que poderá ser vendido para a rede pública, por exemplo, para tornar o serviço mais lucrativo. Em suma, o Hyperloop permitirá que viagens de longa distância sejam efetuadas de maneira mais rápida, mais segura, mais barata, imune ao clima e mais sustentável do que aviões, carros ou trens.

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Renderização mostra a ideia de como deve ser uma estação do Hyperloop (Imagem: Divulgação)

Como isso funciona?

Elon Musk descreveu o Hyperloop como "um cruzamento entre um Concorde, uma mesa de air hockey e um canhão eletromagnético".

Uma pista do Hyperloop consiste em dois tubos fixados a postes acima do solo, e no interior desses tubos estão as cápsulas que devem carregar os passageiros. Os tubos são parcialmente evacuados por bombas de vácuo, que por sua vez o arrastam e permitem que as cápsulas se locomovam em alta velocidade sem consumir muita energia. De acordo com Musk, o consumo seria tão baixo que o Hyperloop poderia ser alimentado por painéis solares.

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A propulsão do sistema é fornecida por meio de indução linear: magnetos na parte exterior das cápsulas e no interior do tubo se repelem, empurrando-as para frente (essa seria a parte do canhão eletromagnético, citado pelo criador do projeto). Para reduzir a resistência ao rolamento, cada cápsula terá um compressor responsável por tirar o ar da frente da composição e dispensá-lo por meio de furos na parte inferior da cápsula (essa seria a parte da mesa de air hockey).

Projeto de como deve funcionar o túnel pneumático do Hyperloop (Imagem: Divulgação)

Quem vai construir isso?

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Depois de desenvolver White Paper de 58 folhas, definindo os conceitos básicos por trás do complexo sistema do projeto, Elon Musk desafiou a comunidade de engenharia a construí-lo.

Os motivos para o empresário não ter assumido pessoalmente a frente do desenvolvimento do mega projeto são um tanto óbvios: ele já está ocupado o suficiente resolvendo assuntos da Tesla e da SpaceX, duas de suas empresas. Enquanto a primeira é uma montadora que tem como próximo grande objetivo construir carros que dirigem sozinhos, a segunda está aprimorando seu foguete reutilizável e focando na missão de levar astronautas da NASA até a Estação Espacial Internacional.

Em fevereiro de 2015, uma startup chamada Hyperloop Transportation Technologies (HTT) anunciou que tinha fechado um acordo para construir os primeiros quilômetros do sistema na Califórnia. A primeira linha de testes terá apenas 8 quilômetros de comprimento, e não irá funcionar nas velocidades supersônicas que Musk imaginou inicialmente, mas ainda assim será um grande projeto. As estimativas são de que o primeiro protótipo alcance velocidades entre 320 km/h e 480 km/h.

Saiba mais: Startup recebe investimento para criar trem que ultrapassa 1.200 km/h

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Comparativo de velocidades em milhas por hora entre carros, trens, aviões e o Hyperloop (Imagem: Divulgação)

A HTT está montando um time dos sonhos para tornar a ideia palpável. Shurvin Pichevar, um dos principais investidores do Uber; Joe Lonsdale, cofundador da Palantir Technologies; Joe Messina ex-vice-chefe de gabinete da Casa Branca; David Sacks, fundador da Yammer; Peter Diamandis, fundador do X Prize Foundation; e Brogan BamBrogan, um dos principais engenheiros da SpaceX. Ao todo, a equipe da HTT já conta com 400 membros trabalhando para tirar o projeto do papel.

A empresa de tecnologia do vácuo Oerlikon Leybold Vacuum e a empresa global de engenharia Aecom também já assinaram acordos com a HTT para participar dos testes do Hyperloop. As parcerias com a Oerlikon e Aecom ajudam a dar mais credibilidade ao projeto, pois demonstram que ele é digno do tempo e do esforço de duas grandes empresas de capital aberto. E essas empresas sabem o que estão fazendo. A Oerlikon, por exemplo, atua no negócio de vácuo há mais de um século, inclusive no Brasil, e já trabalhou em projetos como o Grande Colisor de Hádrons do CERN.

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Renderização mostra uma ideia de como pode ser o interior de uma cápsula (Imagem: Hyperloop Transportation Technologies)

Qual é a situação atual do projeto?

Em janeiro de 2016, as obras da pista de testes do Hyperloop começaram pra valer em Quay Valley, uma cidade movida a energia solar, em Kings County, Califórnia. A estimativa é que o protótipo, que tem um custo inicial previsto de U$ 68 milhões, leve cerca de 32 meses para ser concluído.

Durante os testes do protótipo em escala real do sistema, os passageiros vão viajar em cápsulas automatizadas a uma velocidade de até 260 km/h. Já as cápsulas vazias serão testadas no potencial máximo do sistema, a 1.223 km/h. A ideia inicial é transportar até 10 milhões de pessoas ao longo do período de teste.

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Recentemente, a CNNMoney fez uma breve reportagem sobre a construção da pista de testes da empresa, na qual já é possível ver uma série de tubos repousados sobre a areia do deserto.

Enquanto o exército de engenheiros da HTT trabalha no projeto funcional da pista de testes, universitários e equipes de engenheiros independentes de todo o mundo estão focados em desenvolver seus próprios protótipos das cápsulas do Hyperloop.

Isto porque, em junho de 2015, a SpaceX – que, mesmo não tendo relação com a construção da pista de testes, quer incentivar o projeto – lançou um concurso de design onde convidou os interessados a criar modelos funcionais e em escala real de cápsulas para transportar humanos. A ideia é acelerar o desenvolvimento de um protótipo funcional deste meio de transporte revolucionário.

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A primeira fase da competição terminou em novembro, com a entrega do projeto preliminar das cápsulas. Nos dias 29 e 30 de janeiro, um evento será realizado na Universidade do Texas, onde os projetos serão avaliados pelos engenheiros da SpaceX para a competição final. Em junho de 2016, 1.000 candidatos de 20 países deverão trazer os seus projetos concluídos e colocá-los para funcionar na pista de testes do Hyperloop. O prêmio final será de US$50.000 para a equipe campeã – e uma chance de trabalhar na SpaceX ou na HTT.

Esclarecendo mais algumas dúvidas

  • Conforto: Um dos maiores desafios é fazer com que as viagens nos tubos sejam confortáveis. Designers dizem que, dentro da cápsula, os passageiros vão sentir a aceleração assim que a viagem começar, mas uma vez que a cápsula estiver em plena velocidade, a sensação de movimento deve ser praticamente nula.
  • Chuva: As cápsulas devem ser climatizadas e viajar dentro de um tubo reforçado, de modo que o sistema seja capaz de operar independente do clima externo. Além disso, as vigas que darão apoio aos tubos serão projetadas para tornarem o sistem seguro durante terremotos, por exemplo.
  • Maquinista: Diferente de trens e aviões, o Hyperloop vai funcionar sem condutores humanos. Isso já acontece em lugares como São Paulo, onde no metrô da Linha Amarela os trens não têm condutores e são operados à distância. No caso do Hyperloop, a HTT diz que a ideia é que o sistema seja completamente gerenciado por computadores, evitando assim que erros humanos aconteçam.
  • Entrada fácil: A visão original de Elon Musk para as cápsulas do Hyperloop incluíam portas asa de gaivota (no melhor estilo DeLorean), uma ideia que se manteve em outras renderizações do projeto. A ideia é permitir acesso fácil durante a carga e descarga. Compartimentos de bagagens ficariam na parte da frente ou de trás da cápsula.
  • Preços: Musk estima que a construção completa do Hyperloop deve custar US$ 6 bilhões. Com isso em mente, o empresário acredita que as passagens de viagens com percursos semelhantes ao São Francisco-Los Angeles devem custar cerca de US$ 20.
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Portas à la DeLorean devem facilitar a entrada e saída dos passageiros e de cargas (Imagem: Divulgação)

A construção de uma pista de testes é um marco importante para o Hyperloop. No entanto, ainda não está claro se os sistemas comerciais do projeto serão amplamente adotados. Se levarmos em conta que o mundo está cada vez mais ligado em temas como energia verde, há grandes chances de que o Hyperloop faça sucesso em diferentes mercados.

Agora que você já sabe os principais planos das empresas para tirar a ideia do papel, o que nos resta é esperar para ver as novidades que surgirão ao longo do ano e tentar entender melhor a viabilidade comercial do Hyperloop.