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Em dois anos, casos de "pornô de vingança" quadruplicam no Brasil

Por| 06 de Julho de 2015 às 14h31

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Em dois anos, casos de "pornô de vingança" quadruplicam no Brasil
Em dois anos, casos de "pornô de vingança" quadruplicam no Brasil

Desde as revelações de espionagem feitas pelo ex-técnico da NSA (Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos), Edward Snowden, muito tem se falado sobre como proteger informações pessoais e de risco. Agora, o assunto ganha cada vez mais proporção com o chamado "pornô de vingança", que é quando imagens sensuais ou sexuais são divulgadas sem autorização das pessoas que aparecem naquele conteúdo.

E os usuários têm motivo de sobra para se preocupar, em especial os brasileiros. Isso porque o número de vítimas desse tipo de vazamento quadruplicou no país nos últimos dois anos, de acordo com dados da SaferNet, organização de defesa de direitos humanos na web. Para efeito de comparação, no ano passado foram registrados 224 casos pela entidade. Em 2012, foram apenas 48 denúncias.

Ainda segundo o instituto, o vazamento de imagens íntimas atinge principalmente mulheres, que representam 81% dos casos denunciados. Uma dessas vítimas é Mônica Pimentel, de 18 anos, moradora de Sorocaba, no interior de São Paulo. Ela teve cinco fotos e um vídeo em que aparece tomando banho divulgadas em salas de bate-papo e redes sociais. Na época em que as imagens foram registradas, ela tinha apenas 14 anos, e o conteúdo novamente ganhou repercussão em 2014, quando Mônica tinha 17 anos e estava grávida do primeiro filho.

"Minha mãe ficou bem triste [quando soube do vazamento]. Meu pai ficou bravo de início, mas depois ignorou. Foi pesado. E eu só me preocupava com o meu bebê", comenta a jovem.

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Falando nisso, a situação é ainda mais grave porque crianças e adolescentes também estão sujeitas a esse tipo de acontecimento: de cada quatro vítimas, uma delas é menor de idade. A maioria está na faixa dos 13 aos 15 anos. "A partir dos 12 anos, os jovens começam a invadir as redes sociais. Começa então a interação virtual e a necessidade por curtidas", explica a advogada especialista em direito digital Alessandra Borelli.

Segundo Borelli, os casos mais comuns são de meninas que fazem fotos ou vídeos íntimos, enviam para o namorado, terminam o relacionamento e logo em seguida o ex compartilha o material com amigos em sites e aplicativos para celular. "Os likes são importantes e, para ter as curtidas, os jovens começam a se expor demais. Entram nessa jogada de quem viajou mais, quem tirou a foto mais bonita. Começam a se expor da pior e da melhor forma possível", complementa.

Entraves e falta de debates

Quando foi vítima do pornô de vingança, Mônica procurou a Justiça para processar o garoto com quem havia ficado quando era menor de idade, e a única pessoa com quem compartilhou o material. De acordo com a estudante, que foi à Delegacia da Mulher de Sorocada, "o processo é tão enrolado, tão demorado e burocrático, que você acaba até desistindo". Ela também destaca que, "quanto mais contato você faz em relação aisso, mais próxima [do caso fica] e mais constrangimento sente".

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Para Juliana Cunha, coordenadora psicossocial da SaferNet, a lentidão e a dificuldade para punir o responsável pelo vazamento das imagens são fatores que contribuem para que os casos continuem crescendo. Isso é ainda mais complicado porque um mesmo caso pode ter diferentes classificações na justiça. "Quando as imagens envolvem menores de idade, o crime é classificado como pornografia infantil. Já quando as imagens são de maiores de idade, o crime previsto pode ser o de injúria ou difamação ou então ser levado para a vara cível", diz.

Outra questão abordada po Juliana é uma uma mudança necessária no comportamento machista da sociedade, que ainda trata as mulheres como culpadas por terem feito as imagens. "As imagens foram produzidas por elas, mas sua publicação não foi consentida. O erro não está em fazer as imagens, mas na divulgação", afirma.

Especialistas defendem que situações como a de Mônica devem ser discutidas o quanto antes, principalmente nas escolas. "As escolas não podem ter medo de fazer esse debate. Abordar a sexualidade em sala de aula é uma forma de fazer com que os jovens se sintam mais à vontade de perguntar e procurar ajuda quando necessário", afirma a educadora Neide Noffs, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

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Neide também defende a ideia de que os professores devem abordar a sexualidade dentro do contexto que os alunos vivem hoje, ou seja, uma rotina bastante ligada à internet, redes sociais e aplicativos móveis. "Além de falar sobre as relações sexuais e interesses, é preciso abordar também a questão da intimidade, o respeito com as mulheres. É preciso resgatar alguns valores, já que nossa sociedade preza pelo excesso de exposição", conclui.

Fonte: O Estado de São Paulo (1), O Estado de São Paulo (2)