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Dislexia não é distúrbio e sim parte da evolução cultural da espécie, diz estudo

Por| Editado por Luciana Zaramela | 24 de Junho de 2022 às 19h30

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A dislexia não deveria ser considerada um distúrbio, e sim uma diferença comportamental e cerebral, segundo cientistas da Universidade de Cambridge. A conclusão parte da análise de uma série de estudos em cognição, comportamento e cérebro que mostram uma especialização em explorar o desconhecido e observar o quadro geral das coisas por parte dos disléxicos.

As vantagens trazidas pelo cérebro disléxico podem ter evoluído à medida que os humanos se adaptavam a um ambiente em constante mudança: para sobreviver, nós, humanos, precisávamos aprender novas habilidades e adquirir hábitos, mas também ser criativos e encontrar soluções inovadores através da exploração. O estudo sobre a dislexia foi publicado na revista Frontiers in Psychology.

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Entendendo a dislexia

Em sua pesquisa, os cientistas Helen Taylor e Martin Vestegaard dizem que, já que o cérebro tem capacidades limitadas, a única maneira de melhorar a adaptação ao ambiente seria se especializando em estratégias diferentes. Algumas pessoas ficaram melhores em utilizar os conhecimentos adquiridos, enquanto outras focavam mais na descoberta e inovação.

Eles também consideram que, em muitos campos de pesquisa, entende-se que sistemas adaptativos, como organizações, o cérebro ou até mesmo uma colmeia, é necessário um equilíbrio entre o explorar e o aproveitar, para que a adaptação e sobrevivência funcionem bem. O cérebro disléxico, então, se encaixa nesse entendimento, tendo vantagens e desvantagens.

Aprender a ler, escrever ou tocar piano são aprendizados que dependem de uma memória procedural, ou seja, essas habilidades são processadas automática e rapidamente — mas a automatização da tarefa dita que o indivíduo utiliza a mesma informação uma vez após a outra.

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Se a pessoa, no entanto, tem dificuldade para automatizar tarefas, ela fica consciente de todo o processo. A vantagem dela é que a habilidade ou o processo podem ser melhorados e a exploração da atividade pode continuar. A visão negativa que temos da dislexia considera que nossos processos de aprendizado são baseados em repetição e automatização de tarefas, e é por isso que a condição é chamada de distúrbio do aprendizado ou do desenvolvimento.

Segundo os cientistas, o nosso processo educativo e a importância da leitura e escrita em nossa cultura acabam gerando essa visão negativa da dislexia. Examinando estudos anteriores em psicologia e neurociência, os pesquisadores notaram as diferenças de formação do cérebro disléxico.

O cérebro organiza seus neurônios de forma diferente quando ele é melhor em ver o quadro geral das coisas em comparação ao cérebro que é mais orientado a detalhes. Pessoas disléxicas têm conexões mais longas e menos conexões locais. Como esses modos de pensar evoluíram em conjunto, eles funcionam melhor de forma colaborativa: juntar os dois tipos diferentes de cérebro gera um resultado melhor do que dois cérebros iguais ou mais.

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Como incluir os disléxicos?

Pensar na dislexia como uma diferença ao invés de um distúrbio poderia fazer com que a sociedade se beneficiasse de soluções mais inovadoras, segundo os cientistas. Os disléxicos passam por muitas dificuldades em nosso mundo, mas apenas porque o ambiente foca em uma forma de aprendizado que não faz sentido para eles.

Focar no aprendizado por descobertas, invenções e criatividade pode ser a chave para trazer seus pontos fortes à tona. Ainda é possível ser um ótimo cirurgião tendo dificuldades com leitura e escrita, mas essa oportunidade pode se perder se o indivíduo não consegue passar nas provas tradicionalmente elaboradas nas universidades. Essas barreiras à dislexia precisam ser quebradas, concluem os pesquisadores.

Fonte: Frontiers in Psychology