Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

Como estará nossa saúde mental quando a pandemia tiver acabado?

Por| 03 de Novembro de 2020 às 15h00

Link copiado!

Joshua Rawson-Harris/Unsplash
Joshua Rawson-Harris/Unsplash

Por enquanto, instituições ao redor do mundo estão dando tudo de si para chegar a uma vacina contra a COVID-19, e o fim da pandemia parece distante. Era para ser uma quarentena, porém, longos meses se passaram e muitas pessoas estão cansadas de ouvir e falar sobre pandemia, coronavírus e isolamento social. Com esse cenário se estendendo mais do que deveria, a saúde mental é abalada de diferentes formas. E, assim, a ‘conta emocional’ deste ‘provisório que se tornou permanente’ começa a chegar. Mas... e quando a pandemia acabar, como estaremos em questão de saúde mental?

A psicoterapeuta Sabrina Amaral, da Epopeia Desenvolvimento Humano, relata que pessoas que nunca fizeram terapia, as quais os psicólogos definem como funcionais, estão em um estado de apatia, angústia, congelamento e não têm energia para sair da cama algumas vezes. “Com isso, podem desenvolver sintomas de déficit de atenção, insônia, problema de memória, irritabilidade fora do normal, distúrbios de apetite. Isso sem mencionar aquelas que já estavam em acompanhamento psicológico e tiveram recaídas profundas”, conta.

A especialista destaca a existência de artigos médicos que falam de uma consequência emocional por conta da pandemia, como o das Nações Unidas, que declara que o impacto da pandemia na saúde mental das pessoas "já é extremamente preocupante". Os relatórios já indicam um aumento nos sintomas de depressão e ansiedade em vários países.

Continua após a publicidade

O artigo ainda aponta que grupos populacionais específicos correm um risco particular de sofrimento psicológico relacionado à COVID-19. Os profissionais de saúde da linha de frente, confrontados com cargas de trabalho pesadas, decisões de vida ou morte e risco de infecção, são particularmente afetados. Além disso, destaca aumento de três vezes na prevalência de sintomas de depressão em comparação com as estimativas antes da epidemia.

Outro artigo citado é o do Instituto Albert Einstein, que buscou sintetizar e analisar as evidências existentes sobre a prevalência de depressão, ansiedade e insônia entre os profissionais de saúde nessa pandemia. O trabalho apontou treze estudos incluídos em sua análise, com um total combinado de 33.062 participantes — a ansiedade foi avaliada em 12 desses estudos, com uma prevalência combinada de 23,2%, e a depressão foi fator de pesquisa em 10 estudos, com uma taxa de prevalência de 22,8%.

"Pessoas que outrora eram consideradas ‘funcionais’, psicologicamente falando, desenvolveram desde questões emocionais mais leves, como irritabilidade, stress, angústia, distúrbios do sono e apetite, até questões mais severas como depressão, ansiedade, pânico e fobias. A procura por psicoterapia online aumentou muito neste período, pois as pessoas têm dificuldade de lidar com as incertezas econômicas, o medo de contrair a doença sem mencionar a adaptação de toda uma vida dentro de casa em virtude do isolamento social", explica a psicoterapeuta.

Continua após a publicidade

Sequelas na saúde mental

Quais sequelas podem ficar na saúde mental das pessoas depois que a pandemia acabar? Sobre isso, a psicoterapeuta destaca três grupos distintos: o primeiro deles é composto pelos profissionais da saúde que estão exaustos e esgotados. Para este grupo, as principais sequelas são de síndrome de Burnout e transtornos de ansiedade.

O segundo grupo, composto pelas pessoas que estão em isolamento social, teve um aumento significativo de sintomas de depressão e ansiedade (como mostra um estudo conduzido pela UFRJ, que exibiu um aumento de 80% deste quadro) e fobia social, pânico e TOC (transtorno obsessivo compulsivo) se desdobram destas questões psicológicas.

O último grupo é constituído por pessoas que contraíram a COVID-19 e se curaram. Uma pesquisa conduzida pela The Lancet evidenciou 35% de casos de Transtorno de Stress Pós Traumático, bem como quadros de depressão.

Continua após a publicidade

Sabrina cita, como principais desafios da pós-pandemia, o retorno à velha rotina, e cita pacientes que não se sentiam realizados profissionalmente e escondiam este sentimento atrás de uma vida ocupada demais. "Tem ainda aqueles que estão com medo das incertezas econômicas e financeiras que se desdobram na pandemia, e os que fazem parte dos três grupos e desenvolveram problemas emocionais em virtude do isolamento social, e que vão precisar voltar à rotina mesmo fragilizados psicologicamente".

Conversamos também com a neuropsicóloga Sandra Morais, que cita que a pandemia impactou a saúde mental desde o inicio, pois foi algo que aconteceu inesperadamente. O isolamento social tem afetado a saúde mental de forma exorbitante, pois as pessoas, logo no início, sentiram muito medo do contágio. Também houve as perdas de amigos e familiares. "Fora que muitas pessoas tiveram perdas de renda e desemprego, e isso tem causado muita ansiedade, depressão, síndrome do pânico. Sem dúvida, a saúde mental das pessoas ficará abalada, podendo adquirir algumas sequelas como ansiedade, depressão e até fobias especificas", conta a especialista.

Como reverter?

Com essa questão tão delicada, vem a dúvida: quais são as melhores formas de cuidar da nossa saúde mental durante a quarentena? A quais recursos podemos recorrer?

Continua após a publicidade

Sabrina reitera a importância de respeitar os limites e tempo emocionais. "Cada ser humano tem uma estrutura psicológica única e vai reagir de maneira diferente mediante os mesmos desafios. É importante exercitar a autocompaixão com suas limitações, encarar as coisas com mais leveza dentro de casa, seja nas questões de relacionamento, já que estamos todos em convivência forçada, seja nas questões de trabalho, uma vez que existe uma compreensão acima da média com as limitações do home office como barulhos, interrupções", aponta a psicoterapeuta.

Sabrina acrescenta que é importante estabelecer uma rotina saudável que acomode trabalho, lazer, descanso, atividades físicas e tempo com a família. "Tudo isso respeitando a dinâmica em casa e das pessoas que moram nela. Conseguir ter isso minimamente definido traz uma sensação de segurança e de controle que nós perdemos nesta pandemia, mas que o ser humano tem necessidade de ter".

Enquanto isso, Sandra compartilha de um ponto de vista semelhante, e sugere escolher uma hora do dia para se informar, por exemplo. "Evite ler ou assistir, de forma contínua, notícias relacionadas ao vírus, pois elas podem colaborar para uma pandemia de estresse". Ela também sugere se desconectar um pouco das redes sociais. Ligar para amigos e familiares também é uma das dicas, principalmente para quem vive sozinho. "Eles vão servir como uma rede de suporte pessoal. Isso é essencial", diz a neuropsicóloga.

Aproveitar o tempo livre para se dedicar à organização e estabelecer uma rotina também são alguns dos conselhos da profissional. "Entenda que nosso cérebro tem reações à falta de planejamento. Por isso, estabeleça uma rotina, eleja um horário de acordar, alimentar-se, arrume-se, faça um planejamento do dia seguinte na noite anterior. Aproveite também para se exercitar. Dessa forma, você vai ajudar a manter a sua saúde mental saudável, assim, você vai conseguir ter uma sensação de bem-estar e ainda pode conseguir reduzir tristeza, ansiedade e estresse".

Continua após a publicidade

Terapia e tecnologia

Com isso, há duas coisas que podem se apresentar como aliadas nessa luta para manter a saúde mental. A primeira delas é a terapia. Sabrina conta que as pessoas já estão bem mais abertas e adeptas à psicoterapia, embora este ainda seja um tema permeado por muitos mitos e paradigmas. "Um deles é o 'eu tenho que dar conta de tudo sozinho'. Algumas pessoas tem um agravamento de sintomas emocionais simplesmente porque acreditam nisso. Muitas vezes, uma sessão de 60 minutos de terapia ou aconselhamento psicológico pode poupar semanas de sofrimento para a pessoa e para aqueles que convivem com ela e acabam sofrendo junto", descreve a psicoterapeuta.

Para Sandra, a terapia também é de um impacto imensurável. "Durante a pandemia é de suma importância para que possa haver redução nas consequências negativas que poderão surgir e para a prevenção da saúde mental. E será necessária após a pandemia, para que possa ser trabalhada a readaptação e como as pessoas poderão lidar com as incertezas, perdas e transformações", aponta.

Continua após a publicidade

Outra aliada tem sido a tecnologia, com alguns poréns, é claro. "Se não fosse a tecnologia, certamente as sequelas emocionais seriam bem piores... Com ela foi possível adaptar as demandas da pandemia para o mundo digital: teleatendimento médico, psicoterapia, reuniões de família, festinhas de aniversário, missas e cultos nas igrejas, reuniões de trabalho, treinos de exercícios, continuidade das aulas, compras online... empreendedores criaram presença digital e infoprodutos que mantiveram seu faturamento... E tudo isso deve se manter no pós pandemia em maior ou menor escala", indica Sabrina.

Ela ainda cita aplicativos que auxiliam na saúde emocional, desde os que ajudam a controlar a ansiedade, promover o autoconhecimento, acalmar a mente com meditações, podcasts até profissionais da saúde que produzem conteúdo nas redes sociais para promover alívio e manutenção do bem estar, dentre outros.

Por outro lado, Sandra faz um alerta: "A tecnologia diante da pandemia tem sido de grande valia. Mas é preocupante, pois após a pandemia, as pessoas estarão ainda mais voltadas para este tipo de ferramenta, pois a maioria das pessoas passam mais tempo com seus smartphones do que no convívio humano, e isso é perigoso, pois elas estão preferindo a vida virtual do que a vida real — e o uso descontrolado pode causar perda de foco, retenção de menos informações e, com isso, implicar em redução da memória".

Fonte: Com informações de Nações Unidas Brasil, Instituto Albert EinsteinUERJ e The Lancet