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Steve Jobs desconstrói o mito para mostrar o lado humano do CEO da Apple

Por| 08 de Janeiro de 2016 às 12h46

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Steve Jobs desconstrói o mito para mostrar o lado humano do CEO da Apple
Steve Jobs desconstrói o mito para mostrar o lado humano do CEO da Apple
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Desde muito antes da sua morte, Steve Jobs já havia criado uma aura mítica à sua volta. Ele tornou-se o nome da tecnologia e, como todas as lendas, parecia perfeito e longe de qualquer falha humana. Com blusa preta e calça jeans, sua figura aparecia de tempos em tempos para nos presentear com aquela novidade que certamente iríamos querer. E essa impressão ficou ainda mais clara após sua morte, beirando o divino para muitos fãs da Apple.

No entanto, o novo filme inspirado em sua biografia vai na contramão dessa leitura tão batida da vida do icônico CEO. Com um certo atraso em relação à sua estreia internacional, Steve Jobs chega aos cinemas brasileiros somente no próximo dia 14 de janeiro e surpreende por deixar de lado a história de como o homem que começou a projetar um computador na garagem de casa se tornou o maior nome da indústria para se concentrar nas questões pessoais e que pouca gente conhece.

E esta é a grande diferença deste novo longa em relação àquilo que vimos anteriormente em Jobs, estrelado pelo ator Ashton Kutcher. Desta vez, com Michael Fassbender (o Magneto da nova franquia X-Men e o futuro protagonista de Assassin’s Creed) no papel principal, vemos um lado mais humano do personagem-título e o quanto a sua moral e a sua personalidade eram falhas, além de mostrar que a sua carreira também colecionou alguns fracassos. É quase como se fosse um filme feito para quebrar o mito.

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Jobs desconstruído

Por serem os mesmos roteiristas de A Rede Social, a estrutura narrativa segue a mesma lógica. E isso faz com que seja possível ver algumas coincidências entre as histórias de Steve Jobs e Mark Zuckerberg: é impossível chegar ao topo sem, antes, passar por cima de algumas pessoas e destruir alguns laços de amizade e até mesmo familiares.

O diretor Danny Boyle faz questão de frisar exatamente o quanto Jobs era uma pessoa de personalidade difícil em todos os campos da sua vida. Tanto ao negar a agradecer os funcionários que trabalharam no Apple II por considerar o computador um produto ultrapassado quanto na sua briga por reconhecer a paternidade de Lisa Brennan, tudo é feito para mostrar o quanto ele era uma pessoa complicada, quase desprezível.

As manias, as imposições e a pressão que ele exercia sobre todos à sua volta para que as coisas funcionassem à sua maneira são apresentadas de modo que você não simpatize com a figura de Jobs, ainda que acompanhe uma sutil transformação em algumas dessas características ao longo do tempo. A neura em fazer com que o NeXTcube fosse um cubo perfeito quando ninguém mais se importava com aquilo é um excelente exemplo do quanto ele poderia ser controlador e detestável.

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Ainda que pareça estranha a decisão de selecionar apenas momentos bem pontuais da vida do cofundador da Maçã para montar essa cinebiografia, Steve Jobs acerta muito bem ao montar sua história em torno de momentos específicos da carreira dele. Toda a trama se concentra nos bastidores de três anúncios da vida do CEO, começando na apresentação do Macintosh (1984), passando pelo NeXTcube (1988) e terminando com a estreia do iMac, em 1998, já com a aparência clássica que todos nós conhecemos.

Essa construção diferenciada se destaca por uma série de motivos. Além de ser algo pouco comum e que se afasta bastante do filme de Ashton Kutcher, a ideia de resumir tudo aos bastidores faz com que tenhamos um ritmo bem mais acelerado devido à pressão do momento. Olhando friamente, não há nada em Steve Jobs que seja uma história digna de valer um ingresso de cinema, mas o diretor consegue construir isso de uma maneira muito boa ao criar uma dinâmica nova e um constante senso de urgência a tudo o que acontece.

Além disso, mesclar vida pessoal e profissional aos momentos que antecedem grandes anúncios faz com que tudo se torne ainda mais complicado. É como se você olhasse para uma bomba prestes a explodir. Logo no primeiro momento, pouco antes do anúncio do Macintosh, Jobs precisa lidar tanto com o comando de voz que não funciona quanto com as insistências de Steve Wozniak (muito bem interpretado pelo ator Seth Rogen, que rouba a cena em todas as suas participações) em fazer com que o amigo agradeça aos desenvolvedores do Apple II, além de suas constantes brigas com Chrisann Brennan, com quem ele insiste não ser pai da pequena Lisa.

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Esse panorama inicial já mostra muito bem o quanto Steve Jobs caminha por momentos espinhosos da vida de seu personagem-título e apenas realça a dureza de sua personalidade. À medida que um dos lados desses conflitos aperta, você começa a perceber o quanto aquela figura quase divina que muitos fãs cultuam nada mais é do que apenas uma faceta superficial e que a tendência mesmo era que poucos pudessem gostar daquela pessoa.

E até mesmo o seu talento chega a ser questionado em um dos momentos mais interessantes do filme. Afinal, o que torna Jobs essa figura adorada quando eram todos à sua volta que faziam o trabalho de verdade?

Alguns tropeços

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Ainda assim, Steve Jobs tem alguns pontos que incomodam. O principal deles é a própria falta de um conflito que seja realmente impactante. É interessante ver essa desconstrução do mito e o roteiro até tenta criar elementos para prender o espectador, mas é algo que funciona muito mais como curiosidade para os apaixonados por tecnologia e que já se interessam pela vida de Jobs do que para o restante do público.

E as comparações com A Rede Social são inevitáveis, ainda mais por estarmos falando dos mesmos roteiristas. A origem do Facebook conta com reviravoltas e polêmicas que se encaixam muito bem dentro da trama de um filme, mas o mesmo não acontece com Steve Jobs. Ele tem momentos bem marcantes em sua carreira, mas nada que você olhe e ache digno de aparecer nas telonas.

Isso não quer dizer, porém, que o filme é pouco interessante, mas você percebe que alguns momentos são forçados para que se tornem mais relevantes do que realmente seriam em qualquer outra obra. O momento em que seus pais discutem a adoção de Jobs, algo que surge completamente do nada, é um exemplo disso. Assim, a produção acaba caindo muito mais em um tom quase documental do que na estrutura tradicional de um filme como estamos acostumados a ver.

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Por isso, ele se volta para a exposição da personalidade e do gênio forte de seu personagem do que para apresentar sua história. Não por acaso, a trama é contada com grandes saltos temporais dentro de um espaço de tempo de 14 anos — e isso prejudica bastante a evolução do protagonista. É difícil perceber a transformação do Steve arrogante de 1984 com aquele que aparece nas cenas finais, já em 1998. A história deixa claro que ele mudou em muitos aspectos — embora continue com suas excentricidades —, mas sem trazer pontos em que você perceba o ponto de virada.

Além disso, apesar da excelente atuação de Michael Fassbender no papel principal, a caracterização deixa um pouco a desejar. A figura de Steve Jobs ainda é muito icônica e, mesmo com as tentativas e toda a maquiagem utilizada, o resultado final fica bem mediano — e, nesse ponto, o visual de Ashton Kutcher conseguiu impressionar bem mais.

Elenco de apoio

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Apesar de ser o personagem título, as coisas não giram apenas em torno de Steve Jobs. Como todo fã da Apple e de tecnologia sabe, a sua história possui uma série de outros nomes de peso orbitando à sua volta e que aparecem muito bem caracterizados por aqui. Como dito anteriormente, Seth Rogen rouba a cena como Steve Wozniak. Famoso por seus papéis de comédia, o ator consegue dar vida ao famoso desenvolvedor que sempre esteve ao lado de Jobs, mesmo quando ele estava "descontrolado".

Kate Winslet também dá um espetáculo como Joanna Hoffman, o braço-direito do protagonista. Ao seu lado em todos os momentos, a atriz consegue mostrar muito bem que o "lado humano" e a consciência de Jobs vinham diretamente dela, que ajudava não apenas com as decisões de marketing da Apple, mas também nas crises familiares envolvendo a tal paternidade.

Só é uma pena que a participação de Chrisann Brennan seja bem apagada, retratando-a apenas como alguém desequilibrado, o que tira um pouco do brilho de um dos pilares da trama. Por outro lado, Jeff Daniels vive um excelente John Sculley e a discussão entre ele e o protagonista após o afastamento de Steve da diretoria da Apple é um dos pontos altos de todo o filme.

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Ideal despedaçado

Mesmo com seus tropeços narrativos, Steve Jobs é uma excelente produção e um dos melhores filmes do ano passado — ainda que só chegue aos cinemas brasileiros neste ano. Ao se afastar da figura idealizada do maior nome da Apple, ele humaniza o personagem e consegue fazer com que, em muitos momentos, a gente simplesmente o despreze. Há problemas nessa jornada que vai levar à "redenção" de Jobs, mas ainda é possível aproveitar a trama e conhecer um pouco mais sobre o homem por trás da gola rolê.

Steve Jobs não é um filme memorável, mas merece ser assistido nem que seja para mostrar que, por trás de todo mito se esconde alguém repleto de imperfeições, falhas e uma moral bastante questionável. Mais do que isso, para entender o maestro que ele foi.