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Slender Man: Pesadelo Sem Rosto quer fazer terror com CGI, mas é apenas chato

Por| 23 de Agosto de 2018 às 09h17

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Slender Man: Pesadelo Sem Rosto quer fazer terror com CGI, mas é apenas chato
Slender Man: Pesadelo Sem Rosto quer fazer terror com CGI, mas é apenas chato

As histórias do Slender Man podem ser consideradas um marco no mundo do entretenimento, principalmente entre o público jovem e o mundo dos jogos. Entre 2012 e 2013, época do surgimento dos gameplays no YouTube, todo mundo queria transmitir jogatinas de títulos baseados em jump scares, aqueles sustos simples e repentinos. E, nesse ensejo, The Eight Pages acabou sendo um dos grandes expoentes, gerando uma moda que durou alguns anos, mas, como todas, acabou passando.

E é claro que, quando falamos em um hype desse tipo, estúdios, produtoras e todo tipo de companhia ligada ao entretenimento vai querer uma fatia. Avance a fita para 2018 e temos Slender Man: Pesadelo Sem Rosto, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (23) e tenta trazer um ar de produção de grande porte para uma lenda que, para a maioria das pessoas, já tinha até sido esquecida.

No folclore popular, o Homem Esguio, como seria sua melhor tradução para o português, é uma figura sobrenatural que persegue pessoas, principalmente crianças, até deixá-las loucas ou, então, levá-las para um outro mundo. O círculo quase se completa quando a lenda que surgiu na internet em 2009 se torna digital no filme dirigido por Sylvain White (Hawaii Five-0, The Americans e da vindoura adaptação de Castlevania), com o Slender Man sendo chamado a partir de um vídeo compartilhado pela rede.

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As cenas chegam às mãos de um grupo de amigas, que acabam trazendo a maldição para suas vidas. A partir daí, tem início uma série de repetições de conceitos e clichês, além de um festival de CGI desnecessário, que faz com que o antigo game pareça uma obra-prima. Se lá poderíamos até sentir algum medo em meio aos gráficos toscos e os cenários sempre iguais, aqui o resultado é apenas chato mesmo.

Caso assista ao filme, conte quantas vezes o mote do pesadelo é usado, com uma das personagens sendo perseguida pelo Homem Esguio até acordar, com um suspiro, do sono profundo. O tema recorrente é que a maldição vai tomando conta da mente dos afetados, aos poucos, mas o que se vê na tela aparece apenas como mera repetição, deixando a trama truncada e com pouco sinal de avanço.

Contribui para esse fator, ainda, o fato de o filme, muitas vezes, jogar situações que somente vão ser explicadas depois, mas não daquela forma interessante dos bons filmes de mistério. Em vez de deixar o espectador intrigado sobre o que aconteceu até a vinda do contexto, a sensação é de termos perdido alguma coisa, com uma inversão malfeita da ordem natural das coisas, principalmente quando se fala em um roteiro tão simples como este.

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O abuso na utilização dos efeitos especiais acaba sendo o segundo grande problema e contribuindo bastante para a sensação generalizada de chatice gerada pela produção. Não há, simplesmente, graça nenhuma em tentáculos, sombras e fumaça gerada por computador, principalmente quando os elementos são mal utilizados nas cenas, e, novamente, repetidos à exaustão devido a uma completa falta de criatividade no uso do mito.

Às vezes, Slender Man: Pesadelo Sem Rosto parece um videoclipe, com cortes rápidos e sem conexão; em outras, não esconde sua inspiração em O Chamado, com cenas bizarras exibidas em sucessão. Faria sentido durante a exibição do vídeo que origina toda a maldição, claro, mas não no meio do longa, quando, em mais um dos tantos pesadelos, elementos e momentos são jogados na cara do espectador para passar um sentimento de loucura, mas que acaba soando somente como uma grande falta de sentido generalizada.

Chega a ser irônico reparar que os melhores momentos da produção acontecem quando pouco ou nenhum efeito digital está sendo usado. Destaque para o contraste interessante entre a floresta escura, mesmo de dia, e os cabelos e roupas da primeira vítima do Slender Man; ou para a cena no hospital, em que a personagem principal é observada por todos. São elementos que perturbam e passam o propósito inicial do filme, mas acabam sufocados pela radicalidade do CGI e faceta de clipe musical.

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Levada esquisita

A trama não é das mais elaboradas, e nem podemos esperar algo assim de um filme com essa abordagem. O filme, entretanto, deixa muito aparente a série de problemas que enfrentou durante a produção, tendo passado por diferentes cortes para redução da classificação indicativa, problemas com o elenco e a falta de interesse de sua distribuidora.

Ainda assim, não dá para relativizar a falta de inspiração de boa parte do elenco e, principalmente, a péssima escolha de protagonista, Hallie, interpretada por Julia Goldani Telles (The Affair). Ela se encaixa perfeitamente no estereótipo de adolescente inocente e vulnerável, mas não leva a história para a frente em momento algum nem faz com que o espectador simpatize com ela.

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Wren, entretanto, é o exato oposto. Interpretada por Joey King (A Barraca do Beijo), é ela a responsável por descobrir os mistérios do Homem Esguio e tentar reverter a maldição caída sobre as amigas, acabando por gerar resultados muito piores. É comum vermos personagens secundárias que se destacam, mas não é sempre que elas ganham destaque e se permite que levem a história para a frente. Esse, no final das contas, acaba sendo um dos poucos acertos do roteiro, motivados, provavelmente, mais pela força do nome da atriz e menos pelo bem-estar da história.

Ao final, o contraste entre a sensação de um filme terminado a toque de caixa, que simplesmente acaba, com a sinalização de que existe o interesse em uma sequência deixa um gostinho amargo. Principalmente se você assistiu a outros filmes sobre Slender Man ou jogou o game citado nesta crítica e sabe como um título, mesmo que simples e bobo, pode ser tenso.

Nenhuma dessas características, entretanto, foi transporta para a tela, em um filme, resumindo basicamente, ruim. Mas não a ponto de deixar aquele sentimento negativo que será, mais tarde, comentário de mesa de bar. Mais do que mal dirigido, produzido, atuado e, principalmente, roteirizado, temos aqui um filme simplesmente esquecível. Ninguém se importa com as pessoas da tela e, muito menos, terá medo do terror apresentado.

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O subtítulo de Pesadelo Sem Rosto faz jus ao resultado final, insosso e desagradável, mas não da forma incômoda e tensa do mito original, criado como um creepypasta em 2009 e transposto de forma simples e até tosca para um game que fez mais sucesso do que o esperado. Mesmo assim, o espectador está melhor com eles do que com a produção hollywoodiana, que não acrescenta nada e, pelo contrário, deve fazer com que a antiga empolgação retorne de vez ao ostracismo.