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Crítica | Loja de Unicórnios e a importância de manter o sonho vivo

Por| 12 de Abril de 2019 às 09h21

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Crítica | Loja de Unicórnios e a importância de manter o sonho vivo
Crítica | Loja de Unicórnios e a importância de manter o sonho vivo
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Pare um pouco para pensar sobre o estado atual de sua vida. Reflita em relação a seu trabalho, relacionamento, saúde mental e pense se o seu eu da infância e da adolescência estaria feliz com a sua forma atual. Caso a resposta seja negativa, imagine ter uma segunda chance de recuperar esse encanto do passado. Você aceitaria?

É esse o convite recebido pela protagonista Kit (Brie Larson) logo nos primeiros momentos de Loja de Unicórnios, novo filme distribuído mundialmente pela Netflix. Uma artista fracassada recém-expulsa da faculdade, ela volta a morar com pais que sabe, a consideram uma perdedora, e se vê no limiar de desistir de suas vocações e sonhos para assumir uma vida que muitos chamariam de “normal”, mas que, para ela, não é nada disso.

Então, chega o convite misterioso. O personagem sem nome, a quem os créditos chamam apenas de Vendedor (Samuel L. Jackson), a convida à Loja e informa ter um unicórnio para Kit, desde que ela cumpra certos requisitos relacionados, por exemplo, à construção de um estábulo para o animal e confirme ter condições de cuidar dele de forma adequada. Sonhos e vocações coloridas entram em conflito com um mundo corporativo cinza e marrom, enquanto a protagonista tenta seguir adiante entre ambos.

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A estreia de Brie Larson na direção, em um filme que ela também coproduz, é ao mesmo tempo séria e lúdica. A fábula do unicórnio segue sem questionamentos durante boa parte da película, pois, como fica claro logo em seu início, trata-se de muito mais do que apenas um animal. Para Kit, a personagem principal, ela é como aquele último raio de luz que entra pela cortina enquanto o dia está anoitecendo. É um sinal de que as coisas ainda podem ser como deveriam (para ela).

O problema é que o mundo de sonhos, fantasia e tinta borrada na tela começa a soar como bobo até mesmo para a própria protagonista. Enquanto isso, seus pais, interpretados por Joan Cusack e Bradley Whitford, tentam aplicar as rotinas do grupo de apoio a adolescentes de que participam também na própria filha. Kit, em uma tentativa de buscar a normalidade pedida por eles, arruma um emprego temporário e acaba em uma empresa das mais caretas, onde todos são cobras e o chefe é um assediador daqueles com a fala mansa.

Com o palco montado, Loja de Unicórnios acaba se transformando algo como uma batalha de um rolo compressor contra um boneco de madeira. E mesmo quando a personagem principal tenta trazer um pouco mais de vida e colorido ao universo corporativo, acaba sendo esmagada mais do antes. É o velho dilema entre mudar para agradar a todos e acabar perdendo a própria essência, ou manter esse espírito vivo, mesmo quando ele parece não funcionar de maneira alguma.

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O resultado desse embate acaba sendo um filme visualmente interessante, principalmente pelo figurino, cenários e fotografia. Kit parece confortável e adequada somente quando está na Loja de Unicórnios, enquanto, no restante do longa, soa deslocada e esquisita. Mesmo ao tentar se vestir de maneira sóbria e gostar de "coisas nojentas" como café, em suas próprias palavras, ela não parece pertencer a tudo aquilo.

Mesmo a câmera, sob a direção de Larson, tem dificuldades de se adequar e permanece balançando durante os momentos de maior tensão, enquanto exibe imagens mais abertas nas situações mais tranquilas. É uma forma de manter o espectador ligado e até mesmo envolvido no que está acontecendo, seja na torcida para que Kit consiga realizar seu sonho ou esperando o melhor para ela nos embates no mundo real.

Entretanto, alguns detalhes do roteiro fazem o serviço oposto, com momentos afetados e infantiloides da personagem principal, derrubando-a no conceito de quem assiste. Ela não dá o braço a torcer mesmo quando está errada e muitas vezes quebra as próprias regras em uma tentativa de se firmar, algo que, antes mesmo de se completar, sabemos que vai dar errado.

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Dá para perdoar, em partes, pois Kit está em uma jornada de descobrimento, mas, ainda assim, algumas de suas atitudes soam bem esquisitas. Outras, entretanto, lembram a de uma criança birrenta ou uma adolescente problemática, o que acaba comprometendo um pouco o conceito lúdico da história.

Mesmo abrindo um amplo espaço para discussão e conversas entre os interessados, Loja de Unicórnios acaba se mostrando como um filme leve e, de certa maneira, fraco. Durante os 92 minutos de longa, temos graça, cor e movimento, além da já citada luta interna e externa de Kit. Ao mesmo tempo, nada se sobressai o suficiente para se tornar memorável e transformador.

Acima de tudo, o filme mostra que Larson tem um futuro promissor na direção, principalmente quando tem espaço para contar sua história de maneira confortável como vimos aqui, ao lado de um elenco talentoso e um roteiro que parece tocá-la pessoalmente. Se há algo que fica de Loja de Unicórnios, além de um contato com o passado e os nossos próprios sonhos antigos, mesmo que apenas por uma hora e meia, é a vontade de ver a Capitã Marvel de novo com uma câmera na mão.