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Homem-Aranha: De Volta ao Lar é um belo abraço de boas-vindas ao herói [Crítica]

Por| 05 de Julho de 2017 às 11h15

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Homem-Aranha: De Volta ao Lar é um belo abraço de boas-vindas ao herói [Crítica]
Homem-Aranha: De Volta ao Lar é um belo abraço de boas-vindas ao herói [Crítica]

Poucos filmes conseguem ter um título que diz tanto quanto De Volta ao Lar. Afinal, depois de tantas tentativas, erros, tropeços e até mesmo alguns fracassos, o Homem-Aranha finalmente retorna para a sua casa. O acordo entre Sony e Marvel iniciado em Capitão América: Guerra Civil trouxe o herói mais conhecido e querido da editora para dentro do mesmo universo cinematográfico dos Vingadores e, após uma participação bastante pontual no crossover, agora é a vez e vermos o Cabeça de Teia estrelando sua própria aventura.

É claro que essa reestreia estava cercada de muita expectativa e incertezas. De um lado, havia a esperança de que a Marvel conseguisse colocar seu principal personagem de volta nos eixos, corrigindo as falhas de caracterização e de roteiro dos filmes anteriores. Por outro, os trailers levantaram o temor de que o Amigão da Vizinhança poderia ser um coadjuvante em seu próprio filme. E, agora que Homem-Aranha: De Volta ao Lar finalmente chegou, os fãs podem respirar aliviados, pois ele é tudo aquilo que todos esperavam — e até um pouco mais.

E o maior acerto do diretor Jon Watts é exatamente se basear naquilo que o herói sempre teve de melhor: seu carisma. Ele dosa muito bem a relação entre Peter Parker com o próprio Homem-Aranha, focando na ideia de como seria um adolescente caso ele desenvolvesse poderes e caísse nas graças dos Heróis Mais Poderosos da Terra. Para isso, ele bebe muito da fonte de filmes como Clube dos Cinco e Curtindo a Vida Adoidado — este, inclusive, é referenciado várias vezes no longa —, além dos próprios quadrinhos.

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Isso torna De Volta ao Lar um filme bastante leve e divertido, quase descompromissado em alguns momentos. E isso está longe de ser um problema, por fazer você sentir que está lendo uma aventura de gibi. As boas histórias do Homem-Aranha não são aquelas em que ele está salvando o mundo, enfrentando algumas grande ameaça ou se enfiando em uma conspiração empresarial, mas aquelas em que ele precisa ser o herói do bairro, mesmo só sendo um adolescente.

Sem grandes poderes

Uma enorme dúvida com essa nova encarnação do Homem-Aranha era sobre uma possível reapresentação de sua origem. Embora seja crucial para a gênese do personagem, ninguém mais aguenta ouvir que “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” ou ver o Tio Ben morrer de novo. Ao mesmo tempo, esses elementos não podem ser ignorados da essência do personagem. E De Volta ao Lar lida muito bem com esse impasse.

Mesmo sem mostrar a morte do tio, você sabe que ela aconteceu e sente o peso da tragédia na vida de Peter e o quanto isso influencia as suas ações. Ao mesmo tempo, o filme discute o conflito de poderes e responsabilidades a partir de outros eventos. Isso faz com que o herói ainda tenha de lidar com os velhos dilemas de sempre, mas sem cair na mesma solução que vimos nos últimos cinco filmes. Desta vez, como os trailers já apresentaram, ele precisa se provar como um herói e não apenas um adolescente e um uniforme tecnológico.

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E é aí que o fascínio de lutar ao lado dos Vingadores deixa de ser apenas uma piada para se tornar um argumento do próprio roteiro. A imaturidade e a velha relação entre poderes e responsabilidades se constrói no entorno dessa imaturidade e vira porta de entrada para a jornada de amadurecimento do personagem.

Essa substituição é algo que funciona muito bem, pois mantém o discurso que é essencial para a formação do herói, mas não cai na armadilha de repetir aquilo que todos os filmes anteriores já mostraram. Essa origem relacionada à perda do Tio Ben é algo que já está consolidada no imaginário do público e Homem-Aranha: De Volta o Lar se aproveita disso para partir para outros lados. Não se trata de mudar a origem, mas de mostrar outros reflexos disso.

Ao mesmo tempo, todas as relações que também são importantes ao personagem continuam presentes. Sua relação com a Tia May segue a mesma, ainda que ela esteja bem mais nova do que antes. Peter ainda se preocupa com ela, “ainda mais depois de tudo o que passou”, ao mesmo tempo em que ela é superprotetora com o sobrinho. Essa dinâmica segue imutável e mostra que, apesar das demais alterações, o fundamental permanece intacto.

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E, para quem temia que a participação do Homem de Ferro fosse ofuscar o protagonista do Homem-Aranha, pode ficar tranquilo. Praticamente todas as cenas de Tony Stark são aquelas mostradas no trailer e ele não está ali para ocupar o papel do Tio Ben como figura inspiradora para Peter. Sim, ele busca a aprovação do Vingador Dourado, mas isso apenas se liga com o fascínio infantil do herói e não como parte de sua gênese.

Confissões de adolescente

Outro grande acerto de De Volta ao Lar foi trabalhar a adolescência de Peter de forma mais orgânica. Embora o ator Tom Holland tenha deixado os seus 15 anos para trás já há algum tempo, você compra a ideia de que ele ainda está no Ensino Médio, seja pela sua cara de moleque quanto pelas próprias situações que são apresentadas. Ao contrário do efeito Malhação que vimos com Tobey Maguire e Andrew Garfield, tudo é muito mais crível por aqui.

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E parte disso está exatamente na dinâmica que existe dentro da escola. Mesmo sendo um filme do Homem-Aranha, você quer acompanhar mais de Peter Parker, já que sua relação com seus amigos é muito bem desenvolvida. Todos os coadjuvantes são muito bem explorados e fazem com que as cenas na escola se tornem tão divertidas quanto aquelas em que o herói aparece uniformizado.

Esses momentos, inclusive, estão ali muito mais do que apenas servir de escada para a próxima cena de ação. Elas mostram a vida que Parker rejeita ao se transformar em herói ao mesmo tempo em que usa esse tom inspirado em filmes da Sessão da Tarde para construir seus relacionamentos. E ele faz isso sem tropeçar nos dramalhões dos filmes anteriores.

Perigo voador

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Sejamos sinceros: um filme que consegue fazer com que um vilão ruim como o Abutre se transforme em um inimigo de respeito já merece todas as palmas do mundo. Exatamente para se afastar de tudo aquilo que as adaptações anteriores apresentaram, Homem-Aranha: De Volta ao Lar vai buscar um elenco de vilões de segundo escalão do personagem e, ainda assim, consegue fazer com que eles funcionem muito bem dentro desse universo.

Como a própria Marvel já tinha explicado anteriormente, a origem do Abutre está diretamente ligada aos eventos de Vingadores. Ele surge como fruto da Batalha de Nova York, se especializando na produção de armas com tecnologia alienígena ou mesmo de resquícios de robôs Ultron. Basicamente, ele nasce dos restos que os heróis deixam. É algo simples, mas que funciona muito bem ao amarrar esse novo pedaço do universo com as histórias que a gente já conhece.

Além disso, o Abutre ainda se relaciona com outros vilões menores do Aranha que aparecem rapidamente aqui e ali. O Shocker surge na mesma pegada e há menções até mesmo ao Escorpião. E tudo isso soa natural e sem aquela pegada bizarra e forçada de experiência genética ou fruto do acaso. A organicidade dos eventos é o grande acerto por aqui.

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É claro que o filme ainda tropeça em alguns clichês nessa relação entre herói e vilão, mas nada que comprometa. Você realmente acredita que aquele inimigo é uma ameaça, da mesma forma que entende as suas motivações.

Bem-vindo de volta

O retorno do Homem-Aranha à Marvel não poderia ser mais positivo. Ele foge dos clichês que já foram explorados à exaustão com o personagem, faz mudanças pontuais e acerta em tudo aquilo que apresenta. E tudo com um clima leve, do jeito que as histórias do herói precisam ser. Ao longo das quase duas horas de filme, a impressão é que você transita entre as páginas de um bom gibi e um dos clássicos da Sessão da Tarde.

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Mas o melhor de tudo é ver como essa integração acontece de forma natural. Apesar de todos os problemas de bastidores envolvendo Sony e Marvel, a impressão é que o Cabeça de Teia realmente sempre pertenceu a esse universo e vê-lo entrar de vez no mesmo mundo que o restante dos Vingadores é algo que soa mais do que natural. Ele voltou ao lugar de onde nunca deveria ter saído — e, no fim, quem sai fascinado como um adolescente somos nós.