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Crítica | Bronx é um tédio que rompe a corda moral

Por| 11 de Novembro de 2020 às 19h10

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Netflix
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Pode ser bem complicado para um filme a tentativa de se equilibrar em uma corda moral. Bronx, nesse sentido, parte de uma espécie de intervenção social, trazendo à tona policiais desonestos e, ao mesmo tempo, glamourizando suas atitudes. O roteirista e diretor Olivier Marchal (de Carbono — filme de 2017), inclusive, pode até ser corajoso ao relevar a mobilização mundial contra as polícias criminosas a favor da experiência de assistir ao filme... o problema é que essa experiência acaba sendo, em resumo, um tédio.

Enquanto Marchal começa a traçar um fio de corrupção que liga policiais a criminosos — após uma sequência de abertura que, talvez, logo soe como uma isca apelativa —, podem existir ações que reforcem o apelo público do filme. É como se alguns detalhes fossem cuidadosamente pensados para chocar e, com o choque, manter a nossa atenção ativa. Seja uma cena sangrenta, seja uma ameaça de estupro, os acontecimentos em Bronx vão marcando enquanto o todo vai se esfarelando.

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Atenção! Esta crítica contém spoilers sobre o filme!

Uma massa petrificada

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Acontece que o todo é, justamente, o filme em si. Então, é como se cada situação mais interessante surgisse com o inusitado efeito de mostrar o quanto o resultado é um quase-desastre. Marchal, por meio de um trabalho que pode ser lido como tecnicamente competente, não consegue utilizar as competências individuais de sua equipe para promover qualquer olhar ao seu trabalho. Perdendo, aos poucos, o controle sobre seus personagens, o universo de Bronx parece existir somente para se encaminhar para outra cena de ação — o que há no meio pouco importa: é sem substância e, por fim, esquecível.

Por essa perspectiva, a citada sequência de abertura passa a ser enganosa — propositadamente enganosa. Isso porque, sem controle sobre o filme, o diretor praticamente não consegue determinar quem é o protagonista. Fica uma mistura de heróis, anti-heróis e vilões difícil de engolir. Cada persona dramática é um elemento de uma massa que, quando levada ao forno, transforma-se em pedra.

O desprezo

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Aqueles homens expostos, portanto, são como as balas da pistola de Marchal, que tem um talento nato para cenas de tiroteios — e não deixa dúvidas sobre isso. A questão é que, entre uma e outra dessas cenas, o diretor parece estar limpando sua arma enquanto dá breves cochilos. É um menosprezo narrativo que, de repente, tem sua validade enquanto construção autoral — algo levado muito a sério por Michael Bay (de Esquadrão 6 — lançado em 2019), por exemplo.

Mas Bay assume o seu desprezo pelos personagens e por qualquer emoção inocente desde sempre, sem enrolações. Seus filmes são articulados em prol da ação e ele não tem vergonha disso. Marchal, porém, tenta dar validade para além da forma de Bronx, busca criar situações socialmente relevantes, enfatiza momentos (como, novamente, a cena inicial) para, depois, desprezar sua própria visão.

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No final das contas, resta saber se estamos com vontade de adentrar nesse mundo confuso e desorganizado e se, depois que entramos, temos paciência para uma experiência vazia. Por outro lado, algumas boas cenas de ação podem ser suficientes para se assistir ao filme pela construção estética — ou, claro, se a valorização da violência armada for o que se procura, aí não deve ser difícil suportar o tédio. Porque a corda moral é rompida e a direção do francês pouco se importa.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech.