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Teoria mostra como seria possível camuflar a Terra contra olhares alienígenas

Por| 05 de Abril de 2016 às 08h15

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Teoria mostra como seria possível camuflar a Terra contra olhares alienígenas
Teoria mostra como seria possível camuflar a Terra contra olhares alienígenas

Não é de hoje que teoristas mais e menos respeitáveis advertem quanto aos possíveis desdobramentos do encontro entre terráqueos e uma raça alienígena potencialmente mais desenvolvida. Entretanto, essa deve ser a primeira vez em que alguém propõe uma forma bastante prática para ocultar a Terra, a fim de evitar olhares alienígenas.

A ideia ocorreu ao astrônomo David Kipping, da Universidade de Columbia em Nova York, logo após a notícia de que a sonda espacial Kepler havia detectado uma alteração suspeita no brilho de uma estrela distante – alteração que poderia sugerir uma “megaestrutura alienígena”, conforme se acreditou possível na ocasião. Embora a possibilidade tenha sido afastada, o fato foi suficiente para atiçar a criatividade de Kipping e seu colaborador, Alex Teachey.

De acordo com o duo, seria “surpreendentemente fácil” ocultar completamente o sinal emitido pela Terra – ou ainda distorcê-lo de tal forma que, a um eventual observador, desse a impressão de um planeta sem condições de acomodar formas de vida. “Nós imaginamos essencialmente se, caso nós tivéssemos tendências xenofóbicas e quiséssemos evitar que a Terra fosse descoberta, seria possível escondê-la de alienígenas caçadores de planetas?”, disse Kipping ao site Space.

O “método de trânsito”

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Segundo o astrônomo, a chave para construir uma camuflagem para a Terra se basearia na própria forma como os seres humanos buscam sinais de vida no espaço. Trata-se do chamado “método de trânsito”, o qual detecta alterações sutis de luminescência dos astros, o que pode indicar a passagem de um planeta em órbita – exatamente como o faz a sonda Kepler.

“A fim de dar a impressão de que o planeta não está ali, é necessário evitar essa alteração no brilho”, explicou Kipping ao referido site. “É preciso recriar o brilho [que é perdido durante a passagem em frente ao astro].”

Para tanto, a dupla imaginou um conjunto suficientemente potente de lasers alinhados de tal forma que fosse possível recriar artificialmente a luminescência do Sol que é ocultada pela Terra durante sua passagem – de maneira que, aos possíveis olhares alienígenas, não haveria qualquer alteração que indicasse a existência de um planeta.

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“Muitas pessoas devem ter parado aí, já que o Sol emite muita luz”, disse o pesquisador ao Space, delineando o desafio de produzir um laser de intensidade semelhante ao do astro. “Entretanto, quando você joga tudo nas equações, as possibilidades realmente não são nada ruins.” Teachey ajunta, indo ainda mais longe: “De fato, nós poderíamos construir [semelhante artefato] na semana que vem se quiséssemos”.

30 megawatts durante dez horas

Naturalmente, para que a proposta de Kipping e Teachey funcionasse, seria necessário saber exatamente em que ponto do espaço se encontram os observadores alienígenas cuja investigação deve ser evitada. Uma vez determinada a perspectiva, seria necessário manter um sistema de lasers capaz de emitir 30 megawatts de potência durante 10 horas, uma vez por ano, coincidindo assim com a passagem da Terra na frente do Sol.

Embora se trate de um valor energético bastante expressivo, a dupla calculou que, ainda assim, trata-se de uma quantia inferior àquela captada pelos painéis da Estação Espacial Internacional durante um ano – algo, ainda assim, suficiente para suprir 70 lares durante o curso de um ano. Bastaria, assim, que a energia captada pela estação em órbita durante o ano fosse descarregada em uma emissão massiva no momento certo.

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Embora um laser dessas proporções jamais tenha sido construído, os pesquisadores apontam que seria possível obter o mesmo efeito com a justaposição de diversas unidades menores – todas posicionadas na mesma direção. Embora o feixe emitido seja razoavelmente estreito, o seu diâmetro acaba por se expandir com os anos-luz de distância até algum observador extraterreno em potencial. Além disso, com a distância, os lasers múltiplos não seriam mais distinguíveis.

Disfarces mais elaborados

Mas o duo de cientistas também afirma que seria possível algo mais elaborado do que apenas ocultar a existência do planeta. Com uma potência da ordem dos 250 megawatts, por exemplo, seria possível alterar a “assinatura” cosmológica da Terra, de maneira que, a um observador, a alteração característica de luminescência durante a passagem em frente ao sol revelasse mesmo algo completamente artificial – com um gráfico que poderia trazer a forma de um arranha-céu, por exemplo, ou de um cubo abstrato.

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Naturalmente, essa seria a forma escolhida para não apenas revelar a existência do nosso planeta, mas também para enviar uma mensagem: há aqui vida inteligente (ou, vá lá, suficientemente inteligente para manipular tal indicador).

Entretanto, o mesmo requinte na manipulação por meio dos lasers também poderia servir para melhorar eventuais camuflagens. Ao manipular os comprimentos de ondas emitidas pelos lasers, os pesquisadores afirmam que seria possível convencer um observador distante anos-luz de que não há aqui uma atmosfera capaz de dar suporte à vida – o que, a princípio, poderia dissuadir possíveis invasores cabeçudos.

“Nós poderíamos, de fato, disfarçar várias características, como a presença do oxigênio”, afirmou Kipping ao Space. “[Dessa forma], a civilização alienígena iria detectar o planeta, iria mensurar a sua velocidade radial, mas, quando fosse buscar uma atmosfera, ficaria com a impressão de que não se trata de um planeta muito atraente. [A Terra] se assemelharia a um planeta morto.”

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“A ocultação seria mais convincente”

Embora uma alteração da bioassinatura da Terra seja, a princípio, algo mais oneroso do ponto de vista energético, Kipping e Teachey defendem que o método também seria mais efetivo para iludir batedores alienígenas. “Nós acreditamos que essa seria a forma mais enganosa de projetar uma capa sobre a Terra, já que tudo estaria ali – não ficaria faltando nenhuma peça no quebra-cabeça.”

Em outras palavras, enquanto uma camuflagem completa do planeta poderia ser desbastada por outros métodos de observação – incluindo qualquer indício leve da ocultação -, alterações na bioassinatura, embora não nos escondam, também tornariam as paragens aqui completamente desinteressantes.

Naturalmente, algumas questões ainda se interpõem entre a criatividade dos cientistas e uma execução livre de falhas. Como aponta o referido site, tal método de camuflagem apenas seria efetivo em caso de observadores estacionários – possivelmente falhando no caso de uma espaçonave em movimento.

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Entretanto, trata-se de um curioso primeiro passo para dar atenção aos alertas de cientistas como Stephen Hawking – para o qual o embate de duas civilizações terminaria necessariamente com a menos desenvolvida sendo subjugada. Os estudos de Kipping e Teachey foram publicados no periódico MonthlyNotices, da Royal Astronomical Society.

Fonte: Space, Monthly Notices