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O céu (não) é o limite | O que está rolando na ciência e astronomia (25/03/2020)

Por| 25 de Março de 2020 às 08h00

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Emmagrau/Pixabay/Divulgação
Emmagrau/Pixabay/Divulgação

Normalmente, esse resumo semanal com as principais notícias científicas dos últimos dias é bastante sucinto, com o objetivo de deixar vocês, que não têm tempo a perder, bem informados em poucos minutos de leitura. Mas a coluna de hoje está excepcionalmente mais longa, e o motivo para isso tem nome: SARS-CoV-2, o novo coronavírus, causador da doença COVID-19.

Na última semana, o noticiário geral foi dominado por assuntos direta ou indiretamente relacionados à pandemia e, naturalmente, as editorias de ciência estão "em chamas" — em especial a de saúde, obviamente. Mas não pense que essa crise global não afeta o setor espacial também!

Então, no "resumão" desta semana, o Canaltech deu uma atenção especial ao momento histórico que estamos vivendo — por isso, foi publicado excepcionalmente numa quarta-feira, quando o habitual é estar no ar sempre às terças.

A pandemia do novo coronavírus está se acelerando

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Enquanto uns e outros gastam tempo e energia com teorias conspiratórias de que o novo coronavírus seria uma arma biológica criada em laboratórios na China ou nos EUA, ou ainda que o patógeno teria vindo do espaço com base na ideia da panspermia (algo desacreditado no meio científico), a pandemia segue se espalhando em ritmo acelerado.

Segundo a OMS, a COVID-19 já infectou mais de 360 mil pessoas ao redor do mundo, levando mais de 16 mil a óbito. Depois de os números de casos na China começarem a ser controlados, a doença mudou seu epicentro para a Europa e já chegou com força preocupante ao Brasil.

Por aqui, de acordo com o boletim oficial mais recente (que é atualizado diariamente com mais e mais números), nosso país já registra pelo menos 2.200 infectados e 46 mortes causadas pelo novo coronavírus. A doença já é realidade em todos os estados brasileiros e, por isso, o Senado decretou estado de calamidade pública em todo o território nacional.

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Novo sintoma da COVID-19

Além dos sintomas já conhecidos desde os primeiros casos da doença, incluindo febre, tosse, dor de garganta e, em casos graves, dificuldades respiratórias, recentemente médicos britânicos começaram a recomendar que pessoas com sintomas de anosmia deveriam se isolar por pelo menos sete dias. Anosmia é a perda parcial ou total do olfato, e muitos infectados pelo SARS-CoV-2 realmente apresentam essa característica em comum antes de sentirem os sintomas mais marcantes da doença.

Relatos de que pacientes de COVID-19 apresentaram anosmia como um dos primeiros sintomas surgiram em vários países. Em algumas áreas da Itália, que é o país mais afetado pela doença neste momento, a perda do paladar e do olfato já está servindo como indicativo de que uma pessoa aparentemente saudável pode ser portadora do vírus.

Em busca de tratamentos para a COVID-19

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A ciência está numa corrida contra o tempo em busca de uma arma fatal contra a doença. Algumas respostas possivelmente promissoras já começam a surgir, como é o caso de um medicamento antiviral japonês, que já vem sendo efetivo no tratamento de COVID-19.

Testes foram feitos com pacientes das cidades chinesas de Wuhan e Shenzhen por autoridades do país, e os resultados mostraram redução na duração do ciclo do vírus no organismo. O medicamento em questão é o favipiravir, também conhecido como favilavir ou Avigan, e seu uso em caráter de teste mostrou melhorias na condição pulmonar de alguns infectados. Entre 70 e 80 pessoas receberam a substância originalmente aprovada para o tratamento da gripe.

Contudo, ainda é cedo para declarar o Avigan como um medicamento oficial contra o coronavírus. Mais testes clínicos devem ser feitos, seguindo todos os protocolos necessários, para que órgãos reguladores (como a Anvisa, no caso do Brasil) aprovem seu uso com esta finalidade.

Além da luta do setor de saúde e do setor farmacêutico para encontrar medicamentos eficazes para curar a COVID-19 antes que sintomas mais graves apareçam, o universo da tecnologia também está fazendo sua parte nessa busca incansável. Um supercomputador da IBM, usado por cientistas no Laboratório Nacional de Oak Ridge, nos EUA, foi capaz de identificar 77 possíveis tratamentos para a doença causada pelo novo coronavírus, além de uma potencial vacina.

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O computador em questão é o Summit, usado pelos pesquisadores para rodar simulações com oito mil substâncias. A máquina identificou quais seriam mais eficazes para impedir a reprodução do vírus, desativando a proteína que ele usa para infectar células hospedeiras. Ao tornar tal proteína ineficiente, o vírus não consegue mais se espalhar e, assim, a doença não se instalaria no organismo infectado.

Novas simulações serão feitas com outros tipos de proteína do vírus, identificados por outros cientistas, para refinar ainda mais os resultados. Importante ressaltar, porém, que o computador da IBM não descobriu uma cura para a COVID-19, mas os cientistas envolvidos estão esperançosos quanto às descobertas da máquina, e quanto à possibilidade de seus resultados contribuírem positivamente para a realização de futuros estudos.

Enquanto isso, aqui no Brasil, já está sendo usada uma combinação um tanto quanto controversa de medicamentos para combater a COVID-19. Estamos falando de administrar hidroxicloroquina e azitromicina de maneira combinada, pois, de acordo com um estudo realizado na França, a combinação do popular medicamento contra doenças como malária e lúpus com o antibiótico em questão teria se mostrado eficaz no tratamento da doença causada pelo novo coronavírus, reduzindo seu tempo de vida.

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Alguns cientistas, como a pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Natália Pasternak, são contra o uso desses medicamentos, juntos, para tentar frear a COVID-19 no organismo. É que, em suas palavras, "o fato de um medicamento ser capaz de matar o coronavírus em laboratório não garante que funcionará contra o vírus já instalado no corpo humano". Ela disse também que "para avaliar se o medicamento funciona no interior do organismo humano, outros testes, feitos em voluntários humanos, são necessários, e demandam tempo, critério científico e seriedade", devendo ser conduzidos "com o rigor necessário que nos permita tirar conclusões, e não gerar mais dúvidas".

Ainda assim, pacientes da operadora de saúde Prevent Senior vêm recebendo esse tratamento experimental. O diretor-executivo, Pedro Batista Júnior revelou essa informação à CNN Brasil. Ele confirmou que um paciente contaminado com o coronavírus, apresentando sintomas graves e com o quadro ainda em evolução, recebeu esse tratamento a pedido de sua própria família. Segundo Batista, o paciente apresentou melhora no quadro com essa combinação de medicamentos. Contudo, ele pondera que esse tratamento específico ainda "não tem evidência técnica, no Brasil, de que pode ser empregado no tratamento da doença" COVID-19.

Com a informação de que a combinação de hidroxicloroquina e azitromicina estaria curando pacientes infectados pelo coronavírus, a busca por esses medicamentos aumentou tanto que a Anvisa acabou enquadrando ambos na categoria de medicamentos de controle especial — ou seja, aqueles que só podem ser vendidos mediante receita branca especial, em duas vias, prescrita por um médico. A ideia do órgão é evitar que a população geral acabe com os estoques desses remédios, comprando-os "a torto e a direito" sem que tenham sido prescritos por um médico. Caso isso acontecesse, pacientes de malária, lúpus e artrite reumatoide (que dependem da hidroxicloroquina em seu tratamento) seriam prejudicados.

A Anvisa, por enquanto, tem a seguinte posição sobre essa história: "Apesar de alguns resultados promissores, não há nenhuma conclusão sobre o benefício do medicamento no tratamento do novo coronavírus".

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Impactos da COVID-19 no setor espacial

Como o setor espacial está sentindo os impactos da pandemia do novo coronavírus? Bom, primeiro a missão ExoMars, fruto de parceria entre a ESA e a Roscosmos, precisou ser adiada para 2022 porque não seria possível que um lançamento acontecesse como planejado inicialmente. E isso foi só o começo.

Eventos diversos foram cancelados, incluindo conferências científicas como a Lunar and Planetary Science Conference (LPSC), que deveria ter acontecido agora em março no Texas, EUA. Muitos desses eventos serão transformados em encontros virtuais, no entanto.

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Já com relação a observações espaciais, há algum impacto aí, também. O Observatório Las Campanas, no Chile, fechou as portas no dia 17 de março e assim permanecerá pelo menos até o início de abril. E o Event Horizon Telescope (EHT), que ficou mundialmente famoso no ano passado por ter registrado a primeira imagem real de um buraco negro, cancelou todas as observações agendadas para 2020, com previsão de retomar os trabalhos somente em março de 2021. É que as observações feitas pela rede interconectada de radiotelescópios não poderão ser retomadas neste ano mesmo se a crise da COVID-19 passar, pois "uma combinação de padrões climáticos e mecânica celeste torna impossível realizar uma observação de alta qualidade do EHT em qualquer época do ano, exceto no final de março e até o início de abril", conforme consta no comunicado oficial do projeto.

Já na NASA, a agência espacial dos EUA revelou mais um caso positivo de COVID-19 em suas instalações, desta vez envolvendo um funcionário que trabalha no Kennedy Space Center. Ele teria sido contaminado, contudo, após a determinação de que todos trabalhassem de casa, respeitando a necessidade de isolamento social. Outros dois funcionários da agência espacial já haviam sido contaminados com o SARS-CoV-2 antes disso, e então, com a confirmação do terceiro caso, a NASA fechou as portas de mais de suas instalações por tempo indeterminado.

Isso impactou, diretamente, nas etapas finais do desenvolvimento dos já atrasados foguete Space Launch System (SLS) e nave tripulável Orion. Testes com ambos foram interrompidos, e é preciso lembrar que tanto o foguete SLS quando a nave Orion são essenciais para os planos da NASA de levar novos astronautas à Lua em 2024.

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A suspensão temporária nos trabalhos com tal foguete e tal nave começou no dia 20 de março. Caso as instalações onde eles estão sendo desenvolvidos permaneçam de portas fechadas por muito tempo, é possível que a NASA não consiga mais manter o cronograma do Programa Artemis, postergando em sabe-se lá em quando tempo o tão aguardado retorno de humanos à superfície da Lua.

E na Europa a coisa não está muito diferente. A agência espacial europeia ESA precisou desligar instrumentos científicos de naves e sondas que estão fazendo estudos pelo Sistema Solar, já que as equipes envolvidas estão com um número muito menor de membros, também por conta dos processos de isolamento e quarentena.

A ESA reduziu sua equipe no centro de controle de missões localizado em Darmstadt, na Alemanha, o que afetou o andamento de missões de 21 naves. A agência liberou a maior parte de seus funcionários para trabalho remoto há cerca de duas semanas, exceto o pessoal que executava tarefas críticas, como a manutenção de operações de espaçonaves em tempo real. Contudo, novas restrições foram forçadas por autoridades em todo o continente europeu, e o primeiro resultado positivo de teste para a COVID-19 no Centro Europeu de Operações Espaciais (ESOC) levou a agência espacial a restringir ainda mais o pessoal no local de trabalho. As missões afetadas foram: Cluster, ExoMars Trace Gas Orbiter, Mars Express e Solar Orbiter.

Mas não é só de coronavírus que vive o noticiário, certo? Agora vamos falar de coisa boa?

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Naves da SpaceX e da Boeing com data marcada para levar astronautas à ISS

Depois de anos de atraso, as naves Crew Dragon (da SpaceX) e Starliner (da Boeing) finalmente têm data marcada para suas viagens tripuladas inaugurais. A Crew Dragon deverá levar astronautas da NASA para a ISS pela primeira vez em meados de maio — isto é, se a pandemia do coronavírus permitir —, e a Starliner fará o mesmo em agosto.

Ambas fazem parte do Commercial Crew Program, que a agência espacial lançou para escolher empresas privadas estadunidenses capazes de desenvolver foguetes e espaçonaves capazes de fazer o transporte de astronautas norte-americanos à ISS. Desde 2011, esse transporte é feito pelos russos com suas naves e foguetes Soyuz, e a NASA paga mais de US$ 70 milhões por assento em cada lançamento.

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Adeus, minilua!

O que dizer da nova minilua da Terra que mal conhecemos, mas já considerávamos pacas? O objeto 2020 CD3, recentemente descoberto na órbita do nosso planeta como se fosse uma lua muito pequena, já nos deixou, e agora segue sua trajetória ao redor do Sol.

O objeto foi capturado pela atração gravitacional da Terra em algum momento nos últimos três anos, mas só foi descoberto em fevereiro de 2020. Esperava-se que ele fizesse companhia à nossa Lua pelo menos até o mês de abril, mas ele acabou seguindo seu rumo mais cedo.