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Cientistas descobrem toxina de vespa brasileira que destrói células cancerígenas

Por| 03 de Setembro de 2015 às 09h47

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Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Um grupo de cientistas da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e da Universidade de Leeds, na Inglaterra, descobriu como o veneno de uma vespa brasileira pode auxiliar na cura do câncer. A toxina MP1 é extraída da Polybia paulista e tem a capacidade de abrir buracos especificamente nas células cancerígenas, destruindo-as.

O estudo foi publicado nesta terça-feira (01) na revista Biophysical Journal e deve ser o pontapé inicial para o surgimento de uma classe inédita de drogas contra o câncer. Paul Beales, um dos autores do estudo, afirma que a toxina MP1 não afeta as células normais, mas interage com as moléculas de gordura, também conhecidas como lipídios, que estão distribuídas de forma anômala apenas na superfície das células de câncer.

Entrando em contato com a membrana dessas células, os buracos abertos pela toxina fazem com que as moléculas essenciais para o seu funcionamento escapem.

"Terapias contra o câncer que atacam a composição de lipídios da membrana da célula seriam uma classe inteiramente nova de drogas antitumorais. Isso poderia ser útil para o desenvolvimento de novas terapias combinadas, nas quais múltiplas drogas são utilizadas para tratar um câncer atacando diferentes partes de suas células simultaneamente", comenta Beales.

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De acordo com João Ruggiero Neto, do Departamento de Física da Unesp em São José do Rio Preto e também autor da pesquisa, a Polybia paulista foi descoberta e descrita por Mário Palma, professor da Unesp de Rio Claro.

A toxina MP1 já havia sido estudada por cientistas que sabiam da sua ação contra micróbios causadores de doenças, destruindo a membrana de células bacterianas. Os estudos revelaram, posteriormente, que a toxina é capaz de proteger humanos do câncer, além de inibir o crescimento das células causadoras de tumores de próstata e de bexiga e leucemias resistentes.

Porém, até então, não existia conhecimento sobre a sua capacidade de destruir de maneira seletiva as células tumorais, ou seja, sem afetar as células saudáveis.

"Desde que descrevemos a toxina do veneno dessa vespa, em 2009, sabíamos que ela contém peptídeos com uma forte propriedade antibacteriana, funcionando como um antibiótico potente. Mais tarde, pesquisadores coreanos e chineses começaram a fazer trabalhos com esses peptídeos sobre células de câncer e nós fomos estudar sua ação em linfócitos com leucemia", comentou Neto em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo.

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Efetividade

Os pesquisadores garantem que as toxinas são extremamente seletivas e reconhecem somente os linfócitos leucêmicos, deixando os sadios de lado. A única explicação para a seletividade, de acordo com os cientistas, é a relação com as propriedades únicas das membranas de células de câncer.

Neto diz que o mecanismo foi investigado e mostrou que nas membranas das células saudáveis os fosfolipídios chamados PS e PE ficam localizados na membrana interna, voltados para o interior da célula. Já nas células de câncer, os PS e PE incorporam na membrana externa, ficando expostos ao que há em volta da célula.

Os testes foram realizados com a criação de membranas-modelo que contêm PE e PS, expondo-as à MP1. Então, os pesquisadores utilizaram uma ampla gama de técnicas biofísicas e de imageamento para fazer a caracterização dos efeitos destrutivos da MP1 sobre as membranas.

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O resultado mostrou que a presença de PS aumentava cerca de sete a oito vezes a quantidade de MP1 ligada à membrana. Com a presença do PE, a capacidade da MP1 de danificar a membrana aumentava, assim como o tamanho dos buracos que ficavam entre 20 a 30 vezes maior.

Neto diz que os poros foram formados em poucos segundos e eram grandes o suficiente para permitir o vazamento das moléculas que podem prejudicar a célula, como proteínas e RNA. "O aprimoramento dramático da permeabilização induzida pela toxina na presença do PE e as dimensões dos poros nessas membranas foram surpreendentes", relata.

Futuro

Os cientistas ainda pretendem alterar a sequência de aminoácidos da MP1 para examinar a forma como a estrutura da toxina é relacionada à sua função para então aprimorar a seletividade e potência para futuras intenções clínicas.

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"Como ficou demonstrado em laboratório que a toxina é seletiva para células de câncer e não é tóxica para células normais, ela tem potencial para ser segura. Mas mais trabalho será necessário para provar isso", finaliza.

Fonte: Istoé