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A caminhada brasileira da Interface Cérebro-Máquina

Por| 28 de Abril de 2021 às 10h00

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 Robina Weermeijer /Unsplash
Robina Weermeijer /Unsplash

É possível que estejamos diante de um outro caso do tipo Santos Dumont para discutirmos. Elon Musk está divulgando feitos extraordinários dos laboratórios da Neuralink usando michochips implantados em macacos. Mas o brasileiro Miguel Nicolelis, fã declarado do aviador brasileiro, já publicou em seu livro Muito Além do Nosso Eu uma compilação bem feita dos relatos científicos de uma trajetória de 30 anos ou mais dedicados ao desenvolvimento da tecnologia embarcada neste tipo de interface cérebro-máquina. O livro traz os principais resultados e discussões das publicações científicas feitas por Nicolelis e seu grupo de pesquisadores no seu laboratório nos EUA.

Os achados de Nicolelis usando BMI (Brain Machine Interface) podem ser rapidamente conhecidos no vídeo de uma palestra proferida por ele em 2014, que você assiste acima. Da mesma forma que ocorre com o voo de Santos Dumont, é bem possível que quem tenha conhecimento profundo sobre as particularidades de cada uma das tecnologias possa apontar as diferenças que justificam a declaração da Neuralink de que os avanços obtidos na comunicação entre o cérebro do macaco e o game da década de 1970 sejam mérito de seus desenvolvedores, mas é preciso necessariamente apontar a participação do brasileiro nesta história.

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Os experimentos e resultados obtidos pela equipe do brasileiro merecem uma atenção especial da mídia. Afinal de contas, o feito na abertura da Copa do Mundo de 2014, que permitiu que uma prótese de locomoção pudesse ser usada por um paraplégico, não deve ser completamente obscurecido pela memória aversiva provocada pelo 7 a 1.

Antes disso, em 2008, numa tentativa de mostrar o potencial da tecnologia desenvolvida pelo grupo, Nicolelis usou uma transmissão de altíssima velocidade para enviar a atividade registrada, filtrada e refinada do cérebro de uma macaca para o Japão, a fim de comandar um braço robótico enquanto ela recebia a imagem em tempo real do braço que estava sendo comandado pelo padrão de atividade cerebral dela. Situados no mesmo espaço, Andrew Schwartz, professor da Universidade de Pittsburgh, também alcançou resultado semelhante que pode ser visto no vídeo acima.

Para fazer isso, o brasileiro só poderia ter trabalhado usando equipamentos e financiamento do exterior. Aqui no Brasil, com a nossa política de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, nunca seria possível ir tão longe, mesmo que saibamos que a formação de excelência obtida por Nicolelis no Brasil foi decisiva para que as ideias pudessem virar realizações tão significativas. Mesmo assim, a continuação do projeto Walk Again da Copa de 2014 — para ver os últimos resultados, veja o vídeo abaixo —, mesmo tendo enfrentado várias dificuldades inerentes a complexidades reveladas pelos diferentes níveis de controle neural no controle da marcha, seguiu aqui no Brasil.

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O projeto inicial envolvia um exoesqueleto ligado à BMI, mas pode ser aprimorado já que alguns pacientes paraplégicos começaram até mesmo a recuperar os movimentos dos membros, quando a interface cérebro-máquina passou a ser usada para sincronizar os movimentos dos membros com o cérebro do paciente. É possível que as estimulações que reproduziram a sincronia entre atividade cerebral e movimento dos membros através da interface cérebro-máquina possam ter interferido na dinâmica neural característica da paraplegia.

Não há dúvidas de que é extremamente sedutor imaginar as possibilidades de usarmos nossa atividade cerebral para jogarmos videogame apenas com o pensamento, ou até mesmo para nos comunicarmos telepaticamente, porém, as principais investidas do neurocientista brasileiro parecem estar focadas em trazer esperança de andar novamente para pacientes vítimas de paraplegia. Ou será que ele não acredita que a tecnologia que conhece tão profundamente seja realmente capaz de alcançar os resultados desejados pela Neuralink?

Nicolelis não é o único que pode requerer os créditos da Brain Machine Interface. Muitos grupos de pesquisa já dominam a tecnologia e, em 2019, um grupo de cientistas demonstrou que estas interfaces podem até mesmo serem usadas de forma colaborativa. Desde que a atividade neural pode ser conhecida mais profundamente, nunca tivemos tantos investimentos e tantas pessoas interessadas neste conhecimento. Com certeza, esta história ainda está apenas no começo.