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Transplantes de cabeça podem ser realidade em breve, afirma cirurgião

Por| 26 de Fevereiro de 2015 às 15h08

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A literatura de ficção científica está cheia de exemplos que fornecem inspiração para o mundo real, como videochamadas, incursões no espaço e carros autoguiados. Mas será que temas como transplante de cabeça podem chegar a se tornar realidade um dia? De acordo com o cirurgião italiano Sergio Canavero, sim.

Canavero é diretor do Grupo de Neuromodulação Avançada de Turim, na Itália, e apresentou seu primeiro estudo sobre esse tipo de transplante em 2013. Ele acredita que a técnica desenvolvida por ele o permite ir mais longe do que outros médicos que tentaram algo parecido anteriormente — o cirurgião se refere aos dois casos de transplante de cabeça conhecidos: um cachorro na Rússia, durante os anos 1950, e um macaco nos Estados Unidos, em 1970. As informações são da NewScientist.

O caso de 1970 foi mais bem-sucedido, mas ainda assim não foi muito longe: o macaco sobreviveu apenas nove dias depois de ter a cabeça transplantada, pois o corpo rejeitou a nova cabeça. Além disso, o animal não teve sua medula espinhal ligada à nova cabeça, então não tinha qualquer movimento do pescoço para baixo e precisava de aparelhos para respirar.

Nessas últimas quatro décadas e meia, a medicina evoluiu e os conhecimentos sobre como funciona o corpo humano também avançaram. Então, o doutor Canavero acredita que atualmente temos mais recursos para realizar um procedimento desta grandeza.

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Juntar a medula espinhal é o desafio

Em artigo publicado na revista científica Surgical Neurology Internationl, o médico italiano descreveu todo o procedimento. A primeira parte é divida em três passos: manter a cabeça transplantada e o corpo do doador devidamente resfriados a fim de desacelerar a morte das células; cortar o pescoço e conectar as veias vitais a tubos para minimizar a perda de sangue de ambas as partes; e serrar a espinha cervical da maneira mais precisa e limpa possível.

Depois, é hora de juntar tudo em uma coisa só. Para isso, o grande desafio é ligar toda a medula espinhal, e aí vem um dos destaques da técnica de Canavero: a área seria banhada com polietilenoglicol e, posteriormente, o mesmo composto químico deveria ser injetado na medula para estimular a gordura das membranas celulares a se integrarem com as células umas das outras, completando assim a ligação entre as duas partes.

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O paciente ainda teria vasos sanguíneos, músculos e pele suturados antes de ser induzido ao coma por diversas semanas a fim de evitar qualquer dano ou prejuízo por movimentação. Nesse meio tempo, estímulos elétricos ajudariam a fortalecer a ligação entre as novas terminações nervosas e medula espinhal.

No melhor dos cenários, com tudo correndo bem — inclusive em caso de rejeição do novo “órgão”, que poderia ser resolvido com imunossupressores —, o doutor Canavero acredita que o paciente poderia andar novamente dentro de um ano. Antes de ser aplicada na prática, o cirurgião quer testá-la em doadores de órgão com morte cerebral.

Além disso, o médico chinês Xiao-Ping Ren, da Universidade de Medicina de Harbin, na China, pretende aplicar a técnica em ratos de laboratório. O pesquisador já foi responsável por um transplante de cabeça bem-sucedido em roedores, mas utilizando outros procedimentos.

Ceticismo e questões éticas

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Apesar de parecer “simples” e animadora, a técnica de Canavero não é vista com tanto entusiasmo por todos os seus colegas de profissão. “Não há evidência de que conectar medula espinhal e cérebro por meio de um transplante de cabeça levaria o paciente a ter funções motoras funcionando de forma útil”, pondera Richard Borgens, diretor do Centro de Pesquisa em Paralisia da Universidade Purdue, em Indiana, Estados Unidos.

Além disso, há ainda as questões éticas envolvidas neste tipo de procedimento, visto que o doador de corpo precisa estar tecnicamente vivo — daí a ideia de Canavero em utilizar um corpo que teve morte cerebral declarada.

“Foi por isso que eu falei da ideia há dois anos, para que as pessoas começassem a falar sobre isso”, conta o cirurgião. “Se a sociedade não deseja isso, eu não vou fazer. Mas se as pessoas dos EUA ou da Europa não querem, não significa que isso não será feito em algum outro lugar. Eu estou tentando fazer isso do jeito certo, mas antes de ir para a Lua, você precisa ter certeza de que as pessoas vão seguir você”, finaliza o pesquisador.