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Estudo da NASA revela que Amazônia é decisiva para conter aquecimento global

Por| 24 de Março de 2014 às 08h30

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Estudo da NASA revela que Amazônia é decisiva para conter aquecimento global
Estudo da NASA revela que Amazônia é decisiva para conter aquecimento global

Um estudo recente divulgado pela Agência Espacial Norte-americana (NASA) revelou o que vários outros estudos já haviam constatado: as florestas da região Amazônica têm papel decisivo para conter o aquecimento global. Isso acontece por meio da absorção de carbono da atmosfera em taxas maiores que as emissões oriundas do próprio bioma. O estudo do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA, resultado de sete anos de pesquisas, encontra respaldo em pelo menos seis outras pesquisas feitas no Brasil.

O novo estudo voltou a confirmar que as florestas da Amazônia removem mais dióxido de carbono da atmosfera do que emite, sendo um componente-chave no equilíbrio global de carbono da Bacia Amazônica. A pesquisa, publicada na revista Nature Communications do último dia 18 de março, levou em conta as árvores vivas e o efeito da morte de árvores na região. As árvores vivas retiram o dióxido de carbono do ar à medida que crescem, enquanto as árvores mortas devolvem os gases de efeito estufa à medida que se decompõem.

A pesquisa é a primeira a medir a morte natural de árvores e os efeitos que o fenômeno causa no equilíbrio de carbono em toda a Floresta Amazônica, mesmo em áreas mais remotas, onde não existem dados coletados no nível do solo. O cientista Fernando Espírito Santo, principal autor do estudo, criou novas técnicas para analisar imagens de satélites e outros dados. Ele descobriu que, anualmente, as árvores mortas emitem algo em torno de 1,9 bilhões de toneladas de carbono para a atmosfera – o equivalente a 1,7 milhões de toneladas métricas.

Para comparar o resultado com a absorção de carbono da Amazônia, os pesquisadores usaram censos de crescimento da floresta e diferentes cenários de modelagem. Em todos eles, a absorção de carbono pelas árvores vivas compensaram as emissões das espécimes mortas, indicando que o efeito predominante em florestas naturais da Amazônia é a absorção. Até então, segundo o pesquisador da NASA, ouros estudos só haviam sido capazes de estimar o balanço de carbono da Amazônia por meio de observações limitadas em pequenas áreas florestais, conhecidas como “parcelas”.

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Nessas parcelas, de acordo com os pesquisadores, a floresta também absorve mais carbono do que emite, mas a comunidade científica ainda não havia chegado a um consenso sobre o quão “bem” essas pequenas áreas florestais representam em todos os processos naturais na região amazônica. Tal discussão começou em 1990, com a descoberta de que grandes áreas da floresta podem ser mortas por tempestades intensas, em eventos conhecidos como “blowdowns”.

“Concluímos que os eventos de pequenas escalas são mais importantes na emissão de carbono do que os de larga escalas. Isso porque as árvores das clareiras são mais frequentes nas florestas tropicais da Amazônia do que esses ventos que causam o chamado 'blowdown'”, explica o cientista brasileiro. “De certa forma, o nosso trabalho complementa outros trabalhos anteriores de que as florestas tropicais estão absorvendo carbono. Contudo, foi a primeira vez que um grupo de cientistas bem conceituados tentou entender os efeitos das perturbações naturais em todas as escalas”.

Reafirmação de descobertas

Para o cientista Beto Quesada, da Coordenação de Dinâmica Ambiental do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), os novos resultados da pesquisa da NASA vêm para “reafirmar as descobertas”. De acordo com ele, há outros estudos em que pesquisadores do próprio Inpa estiveram envolvidos que dão suporte aos resultados e outras pesquisas, também feitas no Brasil, sobre assuntos correlacionados.

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Ele cita como exemplo uma pesquisa publicada na edição deste mês da revista Nature que aponta um cenário similar aos resultados descobertos pela NASA. O trabalho, liderado por Luciana Gatti, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares de São Paulo, fez, no entanto, um tipo de contra-balanço à pesquisa da agência norte-americana: se as alterações climáticas extremas continuarem – principalmente as secas intensas –, a região amazônica deixará de absorver e passará a emitir mais CO2, deixando de ser o fator que ameniza para ser uma colaboradora do aquecimento global.

Ele menciona também estudos que avaliaram as “parcelas permanente de inventário florestal”. Entre elas, estão trabalhos conduzidos por Oliver Phillips, em 1998 e em 2009 (o último publicado na revista Science); Yadvinder Malhi, de 2004 (publicado na Global Change Biology) e Timothy Baker, de 2004 (também divulgado na Global Change Biology).

Do mesmo modo, há uma pesquisa coordenada pelo cientista Emanuel Gloor (publicada em 2009 na Global Change Biology) que, segundo Queasa, contesta as afirmativas de que eventos de mortalidade múltipla – os “blowdown”– seriam importantes para o equilíbrio do ciclo do dióxido de carbono, sugerindo que os resultados que dão suporte à teoria dos "blowdowns" seriam, na verdade, um “artefato matemático”. Assim, essa pesquisa dá suporte ao que foi constatado por Espírito Santo e pela NASA.

Mais absorção, menos absorção

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Um outro estudo feito no Brasil pelo pesquisador Júlio Tota, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) e do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), utilizou outro método de avaliação. Embora tenha constatado que a Amazônia, atualmente, absorve mais CO2 do que emite, ele também descobriu que a região absorvia menos do que a comunidade científica internacional supunha.

A pesquisa, feita ao longo de seis anos, media os chamados “fluxos verticais” de vapor de água, energia e gás carbônico entre a floresta e a atmosfera. Além disso, ele utilizou equipamentos complementares que também permitiram monitorar o chamado “escoamento horizontal” do carbono e medir as trocas líquidas de gases do ecossistema. Na época, o estudo levantou questionamentos sobre estimativas de grande absorção de gás carbônico na Amazônia e sobre as trocas de gás carbônico entre a biosfera e a atmosfera.

A mais recente pesquisa da NASA começou em uma oficina, em 2006, quando cientistas de várias nações se uniram para identificar instrumentos de satélites da agência que poderiam ajudá-los a compreender melhor o ciclo do carbono na Amazônia. A pesquisa contou com a participação de 21 coautores de cinco países para medir os impactos de carbono através da morte natural de árvores na Amazônia.

“Nós descobrimos que os grandes distúrbios naturais nas chamadas parcelas terão pouco efeito sobre o ciclo do carbono em toda a Amazônia”, afirma Sassan Saatchi, pesquisador do JPL da NASA e coautor da pesquisa. Segundo ele, a cada ano, cerca de 2% de toda a Floresta Amazônica morre de causas naturais.

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Os pesquisadores descobriram, ainda, que apenas cerca de 0,1% dessas mortes são causadas por “blowdowns”. A pesquisa não levou em conta os resultados das atividades humanas, tais como a exploração madeireira e o desmatamento, que variam amplamente e rapidamente de acordo com fatores políticos e sociais.