A história dos carros elétricos: o "futuro" começou há muito tempo
Por Paulo Amaral • Editado por Jones Oliveira |

Os carros elétricos hoje estão na moda, mas o começo da história é bem mais antigo do que muitos podem imaginar. Na verdade, ele teve início quase que em paralelo à invenção do automóvel propriamente dita. Não acredita? Então se acomode na cadeira e prepare o cafezinho, pois a história que iremos contar é bem interessante.
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Para começo de conversa, vamos citar uma curiosidade. Assim como o posto de “inventor” do primeiro carro do mundo, história que já contamos por aqui, a posição de quem realmente é o responsável pelo aparecimento dos carros elétricos é bastante disputada, e tem vários postulantes a “pai da criança”.
Muitas correntes defendem que o primeiro carro elétrico tenha sido criado por Ányos Jedlik, em 1828. O húngaro teria construído um motor elétrico e, para testá-lo, acoplou o equipamento a um carro em miniatura. Será que isso aí embaixo na foto conta mesmo como a “invenção” do carro elétrico?
7 anos depois...
Muita gente, pelo jeito, defende que a resposta para a pergunta acima seja “não”. Na visão de alguns especialistas, o ano certo para cravar o aparecimento do primeiro carro elétrico é o de 1835. Mesmo assim, a decisão sobre quem foi o real inventor também divide opiniões.
Alguns apontam para o professor holandês Sibrandus Stratingh, que uniu os princípios do eletromagnetismo e dos eletroímãs de Michael Faraday para testes em outro pequeno modelo. Seu “rival” da época foi o americano Thomas Davenport, que também fez o primeiro motor elétrico de corrente direta. O detalhe é que o pequeno carro precisava estar sobre trilhos para se “carregar” e se mover.
Muitos anos depois…
Passaram-se 55 anos, muitos tentaram, sem sucesso, escrever o nome nessa complicada trama. Gaston Planté, e, 1859, ficou conhecido por inventar a primeira bateria recarregável do mundo, enquanto seu compatriota Gustavo Trouvé, em 1881, e o britânico Thomas Parker, em 1884, são citados por terem criado veículos elétricos capazes de sair às ruas.
O case, ou os cases de maior sucesso, no entanto, ainda demoraram um pouco para aparecer. Em 1890, um químico americano, William Morrison, criou uma espécie de carro elétrico, com capacidade para seis pessoas, e desfilou pelos Estados Unidos, principalmente no estado do Iowa.
Nome e sobrenome
A história do carro elétrico começa a ganhar mais vida, no entanto, em 1898, com nome e sobrenome: Ferdinand Porsche. O fundador da marca que hoje é sinônimo de esportividade, luxo e, também, modernidade, anunciou o P1, primeiro carro da montadora que era, adivinhem… elétrico!
O “precursor” do Porsche Taycan, carro elétrico mais vendido do Brasil no 1º semestre de 2021, é o favorito dos historiadores que dedicaram um bom tempo para tentar descobrir a verdadeira história dos carros elétricos. De quebra, o criador da Porsche também é considerado o inventor do primeiro carro híbrido do mundo, o Semper Vivus, anunciado em 1900.
Um fóssil no meio do caminho
Sabe aquele dito popular que cita “no meio do caminho tinha uma pedra”? No caso da história dos carros elétricos, o que freou o avanço do segmento no início do século passado não foi uma pedra, mas um fóssil. Ou melhor: um combustível fóssil, o petróleo.
Se hoje o preço da gasolina e dos combustíveis tradicionais é considerado alto, e um incentivo para que cada vez mais pessoas procurem por carros elétricos, no passado o movimento foi justamente o oposto.
A história conta que, com o surgimento do primeiro carro considerado popular por volta de 1908, o Ford T, à época vendido por US$ 650, um dos modelos elétricos mais badalados sofreu um duro golpe. O “100-MIle-Fritchle”, carro elétrico inventado pelo engenheiro Oliver P. Fritchle, chegou a vender 200 unidades por ano, mas era bem mais caro que o a combustão: US$ 1.750.
A diferença no preço dos carros, no entanto, não foi o fator determinante. O que pesou foi o fato de terem sido descobertos enormes campos de petróleo. Isso acabou barateando demais o custo da gasolina, aumentando o lobby a favor das petroleiras e, consequentemente, tornando os carros elétricos menos acessíveis e interessantes na visão da população.
O gap, o Brasil e a retomada
O “boom” da gasolina acabou interrompendo o que poderia ter sido o início de um segmento automotivo mais limpo muito antes de o mundo inteiro acender o sinal de alerta para o tema e obter a atenção das montadoras.
O Brasil, que hoje está começando a se preocupar e se preparar para o futuro elétrico, acreditem, chegou a flertar com a eletrificação na década de 1970. Em 1974, o engenheiro João Conrado do Amaral Gurgel apresentou ao mercado o pequeno Gurgel Itaipu. O veículo era 100% elétrico e tinha autonomia para até 80 quilômetros, mas sequer teve sua produção em série iniciada.
O carro elétrico só voltou a ser cogitado por volta de 1996. Nessa época, Ford, Honda e General Motors venderam algumas centenas de unidades de modelos como Ranger elétrica, EV Plus e EV1 nos Estados Unidos. A retomada, no entanto, durou pouco, já que os carros elétricos ainda eram muito pesados e, por conta disso, considerados ineficientes e pouco práticos.
O retorno mais forte do segmento se deve ao lançamento do Toyota Prius, modelo híbrido mais leve, com uma bateria mais moderna, e que acabou se tornando símbolo de modernidade na virada do século 20 para o século 21. O Prius vendeu 18 mil unidades somente em seu primeiro ano de vida, e chamou a atenção de outros empresários.
Tesla impulsiona nova era
Você já leu aqui mesmo no Canaltech que o futuro é elétrico, lembra? E boa parte deste futuro elétrico se deve a uma empresa em particular: a Tesla. A montadora do bilionário Elon Musk, justiça seja feita, reacendeu o interesse do mercado e “contaminou”, no bom sentido, as outras fabricantes a seguirem pelo mesmo caminho.
O início da trajetória da empresa foi cercado de desconfiança, afinal, não era a primeira vez que alguém apostava no sucesso da história dos carros elétricos. Fundada em 2004, a Tesla demorou 4 anos para mandar ao mercado o primeiro veículo com essa motorização, o Roadster. Hoje, já vendeu 2 milhões de carros com essa propulsão.
Desde então, não somente a montadora de Elon Musk passou a apostar alto em uma verdadeira “era da eletrificação”, como também marcas dos mais diversos países e tamanhos: Mitsubishi, General Motors, Nissan, Renault, JAC Motors, BYD, Volkswagen e até mesmo as montadoras consideradas de luxo, como Porsche e Lamborghini entraram no meio.
O resultado? Um setor cada vez mais Environmentally Friendly ou, em bom português, Amigo do Meio-Ambiente, e uma gama maior de opções para o consumidor, até mesmo em países que ainda não são considerados referência neste mercado, como é o caso do Brasil.
Conclusão
Para fechar a história dos carros elétricos, um dado que confirma o sucesso da era recente: de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Autoveículos (Anfavea), entre janeiro e outubro de 2021 foram vendidos 1.805 novos carros elétricos no país. O número é 125,3% maior do que o registrado nos 12 meses de 2020, período em que apenas 801 unidades registraram emplacamento.
Esse é o último capítulo de uma história que começou em 1828, ou em 1835, ou em 1859, ou em 1890… Não importa. O que importa é que ela teve início, meio e, ao que tudo indica, para o bem do meio-ambiente, ainda escreverá muitas páginas até que, por alguma razão, possa vir a ter um fim.