Publicidade

Humanos que forem a Marte nunca mais voltarão à Terra, diz criador da Mars One

Por| 09 de Fevereiro de 2015 às 11h46

Link copiado!

Divulgação
Divulgação

De todas as palestras da Campus Party Brasil 2015, a última, realizada na tarde do último sábado (7), certamente foi a que apresentou o projeto mais ambicioso da oitava edição do evento paulista. No palco esteve o holandês Bas Lansdorp, criador da Mars One, uma iniciativa que tem como objetivo levar pessoas a Marte e instalar a primeira colônia de seres humanos em outro planeta do sistema solar.

Por mais que o conceito pareça coisa vista apenas em filmes de ficção científica, o projeto é sério e já possui todo um cronograma pela frente. Empresário e mestre em engenharia mecânica pela Universidade de Twente, na Holanda, Lansdorp explicou aos campuseiros que a primeira fase acontecerá em 2018, quando será feita uma missão exploratória em Marte. Em 2020 começa a segunda fase, quando um veículo espacial não-tripulado será enviado ao planeta para estudar suas condições, o ambiente e outros elementos do local, como a composição do solo, clima, presença de água, entre outras coisas.

Dois anos depois, o projeto entrará em um estágio fundamental que irá preparar a chegada dos humanos ao planeta vermelho. Isso porque serão enviados robôs com diversos equipamentos que irão garantir a sobrevivência dos colonizadores, como painéis solares, máquinas para tornar a atmosfera respirável, estufas e uma estrutura que irá permitir o cultivo de alimentos. Só depois que tudo estiver pronto é que os primeiros humanos serão enviados ao planeta, viagem esta agendada para o ano de 2024. A expectativa é que os usuários pisem em Marte apenas no ano seguinte, uma vez que o tempo daqui da Terra até Marte é de aproximadamente 7 meses.

Segundo o criador da Mars One, após a primeira equipe desembarcar, um outro time será enviado ao planeta a cada dois anos - cada equipe sempre será composta por quatro pessoas, sendo dois homens e duas mulheres. O custo total de operação para tocar o projeto está avaliado em US$ 6 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões).

Continua após a publicidade

"Desde a criação de Mars One conseguimos contar com o apoio de cientistas, engenheiros, homens e mulheres de negócios do mundo todo. Ver o desenvolvimento do projeto é saber que meu sonho tem se tornado realidade", comentou Lansdorp. De acordo com o executivo, apesar dos valores bilionários que envolvem a iniciativa, os investimentos vão valer a pena e devem ser rapidamente custeados com a transmissão do evento para todas as redes de TV do planeta, além da ajuda de patrocinadores e usuários entusiastas com a ideia de colonizar nosso "vizinho".

"Acredito que o momento em que pisarmos em Marte será um dos mais importantes da humanidade. O homem estará em um novo planeta. Quem não ficaria animado em assistir pela televisão a chegada do homem a Marte?", questionou o empresário. "Os humanos são exploradores. Marte está ao nosso alcance agora. Podemos inspirar crianças a serem astronautas e cientistas em vez de celebridades do universo pop. Ter pessoas vivendo em Marte vai mudar o mundo em vários aspectos".

Os primeiros em Marte

Continua após a publicidade

Bas Lansdorp na Campus Party Brasil 2015. (Foto: Reprodução/YouTube)

Lansdorp afirmou que os recursos tecnológicos atuais já permitem enviar humanos ao planeta vermelho. A própria NASA, a agência espacial americana, já tem capacidade de montar uma viagem tripulada a Marte. "O fator mais importante que impede a NASA de colocar o homem em Marte não é a dificuldade [de equipamentos], mas sim porque voltar de Marte para a Terra é ainda mais complicado do que chegar lá", comentou. Segundo o engenheiro holandês, esta seria a única razão da agência não ter mandado seres humanos ao planeta, mesmo após 20 anos de estudo em formas eficazes para trazê-los de volta.

Por isso, a Mars One descarta qualquer possibilidade de retorno à Terra para que o projeto saia bem-sucedido. "Uma missão permanente é menos arriscada do que uma missão que prevê uma volta. Os humanos ficarão em Marte e, por este motivo, não precisamos de todos os equipamentos usados pela NASA. O sistema [de envio de humanos a Marte] precisa ser testado até os mínimos detalhes, mas não precisamos de novas invenções para isso acontecer", disse.

Como se trata de uma viagem sem volta, Lansdorp explicou que a tripulação está sendo escolhida a dedo, especialmente a primeira equipe que deve sair da Terra em 2025. Os quatro primeiros, em específico, terão de passar 7 meses seguidos a bordo de uma nave rumo a Marte, se alimentando apenas de comida seca ou enlatada. Ao chegarem no planeta vermelho, terão de passar mais dois anos sozinhos, trabalhando de forma cooperativa para estudar as condições do planeta e preparar o terreno para que a próxima equipe já chegue ao local sabendo o que irá enfrentar.

Continua após a publicidade

"Os primeiros anos serão muito difíceis. Os astronautas não poderão tomar banho e a comunicação com a Terra será bastante complicada", declarou. Ele também destacou várias vezes que o mais importante para os tripulantes será o espírito de equipe, pois só assim poderão sobreviver em um planeta com condições bem distintas das que encontramos aqui na Terra. Para se ter ideia, as condições e as paisagens de Marte lembram um grande deserto, cuja atmosfera é constituída de dióxido de carbono e a temperatura média é de -63º C.

Segundo Lansdorp, mais de 200 mil pessoas de 140 países se candidataram pelo site da Mars One para ingressar no projeto, das quais 10 mil são brasileiras. O processo de seleção é rigoroso e os testes envolvem principalmente a fluência em alguma das onze línguas mais faladas no mundo (além do inglês, que será o idioma oficial das colônias) e a cooperação entre os inscritos - no caso, uma equipe composta por quatro pessoas. Se um deles desistir ou não aguentar a bateria de experimentos, todo o time é eliminado do projeto.

Lansdorp afirmou que o perfil dos candidatos é variado. Ele também revelou que tem planos de enviar "algum jornalista para contar às pessoas como é a vida em Marte" e, assim, "permitir que as pessoas se identifiquem e apoiem o projeto".