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Cientistas recuperam pulmões danificados de doadores com a ajuda de... porcos!

Por| 14 de Julho de 2020 às 14h21

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George Washington University Hospital
George Washington University Hospital

Um dos grandes desafios para a doação de órgãos é, de fato, salvar vidas. Isso porque cerca de 80% dos pulmões doados, por exemplo, estão em condições físicas que impedem o transplante, com inchaços ou preenchidos por líquidos de forma irrecuperável. Foi exatamente nessas condições que uma equipe médica norte-americana recebeu seis doações de pulmões, vindos de pacientes que tiveram morte cerebral. Esses órgãos já tinham sido recusados por inúmeros centros médicos e por centenas de médicos que não pensaram que porcos poderiam ser ótimos auxiliares.

Trabalhando e estudando há oito anos sobre como restaurar pulmões danificados, os pesquisadores da Universidade de Columbia e da Universidade Vanderbilt, ambas instituições dos Estados Unidos, resolveram aceitar a difícil missão de recuperar órgãos. Com o método experimental desenvolvido, a equipe conseguiu recuperar cinco dos seis pulmões que estavam destinados para  transplantes. 

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Conforme o artigo publicado pela revista Nature Medicine na segunda-feira (13), as técnicas usadas pelos cientistas mais parecem ficção científica. Isso porque, a partir de um sistema usando caixas de plásticos e a respiração de porcos vivos, em 24 horas, a equipe transformou pulmões danificados em saudáveis. Posteriormente, testes de laboratório confirmaram as "ressurreições".

Como é a recuperação?

Focada em recuperar os órgãos debilitados, a equipe da médica e professora Gordana Vunjak Novakovic percebeu que, para salvar os pulmões, precisariam de um ventilador mecânico, normalmente utilizado em procedimentos de recuperação mais simples, mas também de um organismo inteiro, em pleno funcionamento. A ideia é que com ele fosse possível remover resíduos metabólicos e fornecer a energia necessária para manter o órgão vivo — e respirando — até que sua saúde fosse restaurada por completo e, assim, que ele fosse, finalmente, transplantado.

Para isso, a equipe dos Estados Unidos utilizou como cobaias porcos que apoiaram a recuperação desses pulmões humanos. Só que, antes, os pesquisadores testaram a recuperação de pulmões danificados de porcos nos próprios porcos. Cada pulmão foi conectado a uma grande veia no pescoço do animal, de modo que o sangue fluísse através dos vasos. Nessa função, os órgãos conectados aos porcos se mantiveram "respirando" por quatro dias, tempo suficiente para que até os mais gravemente danificados se recuperassem.

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Após os testes iniciais, os cientistas experimentaram o mesmo procedimento, porém com seis pulmões conectados a diferentes porcos. Cinco pulmões foram conectados através de uma cânula na jugular de animais que haviam sido imunossuprimidos, para impedir que o sistema imunológico dos porcos atacasse os pulmões. Já o sexto pulmão, considerado de controle na pesquisa, foi anexado a um porco que não havia sido imunossuprimido.

Com 24h de procedimentos, todos os órgãos ​conectados aos animais imunossuprimidos estavam, novamente, saudáveis. Testes de laboratório também confirmaram que as células pulmonares haviam se recuperado. "O porco foi capaz de manter o pulmão vivo e permitir que ele se reparasse", explica o médico Matthew D. Bacchetta, principal autor do experimento.

Por outro lado, o pulmão do grupo de controle, nas 24h, desenvolveu fluídos extras, coágulos sanguíneos se formaram e a função respiratória caiu, além de que marcadores inflamatórios e imunológicos dispararam.

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Agora, a pesquisa estuda como realizar o mesmo procedimento de purificação na própria pessoa que receberá o transplante. Isso porque o sangue de porcos oferece vantagens e desvantagens sobre o de pacientes humanos. Por exemplo, pessoas que precisam de um transplante costumam estar com o organismo muito debilitado e poderiam não resistir ao procedimento. Por outro lado, os porcos carregam inúmeros vírus que podem, eventualmente, desencadear reações imunológicas nos pacientes.

Faltam doadores

O método de recuperação de pulmões utilizado pelos cientistas norte-americanos ainda é experimental e não está, totalmente, pronto para uso clínico. Independente disso, é mais uma das iniciativas que buscam contornar o problema de saúde pública que é a falta de doadores de órgãos. Somente nos Estados Unidos, 365 pacientes morreram no do ano de 2018, enquanto aguardavam em uma lista de espera para o transplante. 

Além disso, os critérios de elegibilidade para um transplante de pulmão são muito rigorosos, ou seja, poucas pessoas têm chances de receber um transplante por causa dessa baixa disponibilidade de órgãos. Nesse cenário, uma significativa parcela dos centros médicos, por exemplo, não prioriza pacientes com 70 anos ou mais.

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Se fosse possível aproveitar cerca de 40% dos pulmões doados, no lugar dos atuais 20%, a lista de espera por transplantes de pulmões poderia ser, até mesmo, zerada. Nesse cenário, "poderíamos evitar muitas mortes na lista de espera e ter uma mente mais aberta sobre quem poderia fazer um transplante", completa Bacchetta.

Fonte: The New York Times e Columbia University